O nome é fertilizante, mas se você quiser pode chamar de volatilidade. Há um ano, produtores rurais e revendas partiam em desabalada carreira para formar estoques de insumos agrícolas. Não era para menos. A (então) recente invasão da Ucrânia pela Rússia evidenciava o problema da dependência de um fornecedor. Em pouco tempo, o preço dos fertilizantes chegou a subir 50% e o risco de escassez era considerável.
Um ano depois, a situação mudou radicalmente. Indústrias de insumos e revendas estão com estoques abarrotados. Formado a preços muito mais altos, esse inventário precisa ser desovado, o que provocou uma dinâmica competitiva perversa neste trimestre, com descontos bem expressivos. Num país de Selic a 13,75%, carregar um estoque além do usual não é algo que se diga confortável.
Uma das maiores redes de revendas do país, a Agrogalaxy até conseguiu evitar o excesso de estoques, mas não está imune à competição com players que precisam ajustar o inventário.
Medidas de ajuste
“O mercado terminou 2022 com um estoque de passagem alto, o dobro do que costumava ser”, contou Sheilla Albuquerque, CEO da Agrogalaxy, em uma conversa com The Agribiz. Com as importações de fertilizantes em queda, a expectativa é que o nível dos estoques se normalize no segundo semestre, aliviando o quadro.
Enquanto lida com um mercado mais arredio, a Agrogalaxy vem tomando as próprias medidas para cuidar do capital de giro, uma linha fundamental para melhorar a geração de caixa uma vez que as despesas com juros ainda vão demorar a ceder.
Em um ano, o custo médio da dívida do grupo saiu de 8,78% ao ano para 16,04%. Só a mudança de taxa aumentou as despesas em R$ 124,8 milhões, 31% de tudo o que a companhia gastou com juros. Somando os juros dos empréstimos bancários e CRAs emitidos pela Agrogalaxy, as despesas da companhia beiraram R$ 395 milhões em 2022.
“Com essa Selic muito alta, tem que reduzir o capital de giro. Nossa intenção é diminuir ainda mais os inventários”, frisou a CEO. Os juros altos, aliás, apertaram a margem líquida.
Mesmo com um resultado operacional melhor que o esperado e um salto de 76% na receita líquida (R$ 11,6 bilhões em 2022), a Agrogalaxy lucrou apenas R$ 53,9 milhões no último ano, queda de 64%. A margem líquida caiu de 2,3% para 0,5%, mostrou o balanço divulgado no início da noite de ontem.
Sem M&As
A estratégia agora é tirar o pé do acelerador. Nesse aspecto, a queda dos preços dos insumos até ajuda, reduzindo a necessidade de capital de giro. “Vou crescer menos em receita em 2023, talvez até fique estável”, disse Mauricio Puliti, CFO e diretor de relações com investidores da Agrogalaxy.
O ritmo agressivo de M&As que marcou a construção da Agrogalaxy pela Aqua Capital — firma de private equity comandada pelo argentino Sebastian Popik — também dará um tempo. “Não vemos M&As em 2023. A taxa de juros é proibitiva”, disse a CEO da companhia.
A previsão de abertura de novas revendas também foi ajustada. “Tínhamos um guidance de 20 a 25 novas lojas, mas até pela estrutura de capital mudou para 15 a 20”, complementou Puliti. No ano passado, a Agrogalaxy adicionou 29 revendas — 11 delas vieram da aquisição da Agrocat. Ao todo, a companhia possui 163 lojas.
A Agrogalaxy está avaliada em quase R$ 1,4 bilhão. No ano, as ações acumulam queda 17%.