Nos últimos sete dias, a chuva mais intensa permaneceu sobre o Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina. Pontualmente, municípios dos Campos de Cima da Serra Geral receberam mais de 250mm, elevando o nível o rio Taquari e provocando uma inundação severa pela terceira vez em menos de um ano nas cidades Roca Sales e Muçum.
No campo, as atividades praticamente finalizaram. Para muitos produtores, não vale mais a pena colher culturas como a soja, pois a baixa qualidade não compensa os custos. Faltam colher 15% das áreas e a Emater ainda não estimou a perda.
Outras culturas afetadas foram o milho com 12% das áreas ainda não colhidas, arroz com 14% das áreas ainda não colhidas, feijão em desenvolvimento e hortifrútis.
Ainda há previsão de chuva sobre o Rio Grande do Sul, mas o intervalo entre as precipitações será um pouco maior. O número de dias com tempo seco, porém, ainda não será suficiente para uma retomada acelerada de algumas atividades de campo —vale lembrar que, a partir da semana que vem, começa a safra de inverno no Estado.
O acumulado de chuva previsto até o fim de maio passa dos 150mm no Vale do rio Jacuí, Campanha e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
A chuva avança
As frentes frias conseguirão avançar pelo centro e sul do Brasil nos próximos dias. A chuva quebrará uma sequência de 30 dias de estiagem no norte do Paraná, em boa parte de Mato Grosso do Sul e de Rondônia e no oeste de Mato Grosso.
A precipitação até será bem-vinda para áreas de milho instaladas de forma mais tardia e que ainda estão em desenvolvimento, mas já há uma perda irreversível em áreas mais precoces. Além disso, especificamente para o algodão de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso, a torcida é para que a chuva não seja excessiva, pois já existem áreas praticamente prontas para a colheita. Uma chuva forte agora pioraria a qualidade da pluma.
Nas áreas de cana-de-açúcar de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, a chuva não será suficiente para aumentar a umidade do solo. O calor excessivo e a estiagem inibem o desenvolvimento da cultura, especialmente em áreas de rebrota e de cana de 18 meses.
La Niña
A Administração Nacional de Atmosfera e Oceanos (NOAA) indicou que o El Niño praticamente terminou no oceano Pacífico equatorial central. Porém, a formação do fenômeno La Niña foi postergada para o trimestre de julho a setembro (antes, a previsão era para o período entre junho e agosto).
Além do atraso, a intensidade prevista é cada vez menor. Aparentemente, o La Niña será fraco e não terá uma grande duração, terminando ainda no primeiro semestre de 2025.
Plantio nos EUA
O plantio de milho está avançando mais devagar que em 2023 e que na média dos últimos cinco anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Já a soja está em linha com o observado na média dos últimos cinco anos.
A chuva terá distribuição irregular nos próximos 15 dias. Enquanto Estados como Arkansas, Tennessee e Kentucky receberão chuva excessiva, o entorno dos Grandes Lagos terá chuva abaixo da média histórica. Praticamente não há áreas com seca neste momento no Meio Oeste Americano e a diminuição da chuva será bem-vinda para a aceleração do plantio.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.