A Rio Capim, companhia criada pela startup Belterra para a implantação de pecuária regenerativa no Pará, encontrou uma alternativa criativa para levantar recursos com investidores de mercado e escalar o ambicioso projeto socioambiental.
Em uma transação estruturada pela Vox Capital, gestora de impacto fundada por Daniel Izzo, a empresa se preparou para emitir um CRA de R$ 100 milhões, numa mescla entre recursos com taxas de juros de mercado (CDI + 5% ao ano) e capital catalítico — um recurso que aceita tipicamente um retorno financeiro nulo ou baixo para viabilizar a transformação.
A operação será feita em duas tranches de R$ 50 milhões, a primeira neste ano e a segunda em 2025, explicou Daniel Brandão, diretor de soluções baseadas na natureza da Vox Capital, em entrevista ao The AgriBiz.
Para essa primeira tranche, a Rio Capim garantiu boa parte dos recursos catalíticos. Do total de R$ 50 milhões, cerca de R$ 20 milhões virão de investidores comprometidos com a tese de transformação da pecuária no Pará.
O capital catalítico
A JBS, que já vem apoiando a construção da Rio Capim desde o ano passado por meio do Fundo JBS pela Amazônia, se comprometeu a colocar R$ 10,2 milhões no CRA.
O investimento se dará com a compra da cota junior, em uma série que vencerá em dez anos. Nessa cota, o investidor vai ficar com as sobras. O objetivo é obter apenas o retorno do principal corrigido pela inflação, disse Brandão.
A Vox Capital está em conversas avançadas com fundos de impacto para levantar mais R$ 10 milhões para a mezanino do CRA, que renderá CDI + 2% ao ano e vence em oito anos. Nessa cota, o crédito concedido à Rio Capim é sem garantias (clean, no jargão do mercado).
Com essa composição de blended finance, a Vox acredita que será possível captar os R$ 30 milhões restantes do CRA no mercado de capitais. A ideia é levar aos investidores da sênior uma taxa de CDI + 5% ao ano e vencimento em seis anos, com o gado da operação da Rio Capim em garantia na forma de alienação fiduciária.
Escala para a pecuária
Quando concluir a captação de R$ 100 milhões por meio do CRA, a Rio Capim terá condições de contar com um rebanho de 15 mil vacas, gerando em torno de 12 mil bezerros por ano.
Ao controlar a etapa de cria, a Rio Capim ataca um dos principais problemas da pecuária na Amazônia e um dos grandes gargalos para combater o desmatamento. Com isso, a companhia pode revender o bezerro para um recriador, controlando melhor a cadeia produtiva.
À medida que o projeto evolua, a companhia poderá ganhar ainda mais escala. A ideia é chegar à COP-30 de Belém, no ano que vem, com uma operação com resultados para mostrar. Assim, o projeto acredita que poderá atrair novos investidores, ampliando os recursos captados para R$ 1 bilhão, um dinheiro capaz de mudar o ponteiro da pecuária no Pará.
Para demonstrar os resultados das práticas regenerativas, o CRA estruturado pela Vox Capital contará com o comitê de risco e impacto para verificar os resultados alcançados no projeto, prestando contas aos investidores. O grupo será composto por Vox, Rio Capim e um integrante independente.
“O blended finance cria condições para dar escala ao projeto”, reforçou Brandão. Na Vox, um dos objetivos é conseguir desenvolver um mercado de investimentos de impacto para a pecuária regenerativa.
Viabilizar uma produção de gado em harmonia com a Amazônia é uma meta (e necessidade) da JBS. Não à toa, o fundo criado pela companhia doou R$ 900 mil para o projeto da Rio Capim no ano passado e emprestou outros R$ 9 milhões (por meio da compra de uma CPR) a taxas de juros módicas.