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O Brasil vai ter unicórnios no agro? Para investidores, essa não deveria ser a discussão

Para os fundadores de Barn e Mandi, é necessário adequar métricas à realidade brasileira; gestoras comentam as teses mais promissoras no momento

Painel discute unicórnios no agro brasileiro
Investidores da Barn, Mandi, Rural Ventures, The Yield Lab e Glocal discutiram as teses mais promissoras em evento da SP Ventures

Num ambiente de juros altos, ainda duro para a retomada do venture capital, investidores acreditam que o Brasil pode ter unicórnios nos próximos três anos — mas destacam que essa não deveria ser a principal discussão no setor.

“O unicórnio foi criado lá fora para um mercado completamente diferente do nosso. Se pegarmos a bolsa brasileira, quantas empresas valem mais de R$ 5 bilhões?”, questionou Flávio Zaclis, fundador da Barn Investimentos, em painel realizado durante o Harvesting Innovation, evento promovido pela SP Ventures na segunda-feira em São Paulo.

Para Zaclis, a discussão sobre empresas avaliadas acima de US$ 1 bilhão é mais complexa do que os números puros e simples, ainda que o Brasil tenha a capacidade de produzir empresas desse porte.

Olhar somente para unicórnios ignoraria, por exemplo, negócios relevantes no setor, como a venda da Strider — investida da Barn que foi comprada pela Syngenta — além de, recentemente, a própria transação envolvendo a Biotrop. “Quantas companhias são vendidas por mais de US$ 500 milhões no Brasil?”, questiona o investidor.

Mais do que olhar o número em si, é necessário encontrar boas empresas, defendeu Zaclis. Uma saída é partir para uma visão escalonada de valuations, o que permitiria chegar às empresas de US$ 1 bilhão de uma forma mais consciente do que um tiro curto de olho nesse número.

“O mais importante é ter um mindset de encontrar boas companhias, ótimos founders, tecnologia que possa ser usada no resto do mundo. Com um valor de venda bom o suficiente para dar retorno ao investidor”, diz.

O argumento foi endossado por Antonio Moreira Salles, fundador da Mandi Ventures, durante o mesmo painel.

“Acho que a grande coisa continua sendo avaliar a que preço você entra e a que preço você sai. Quando morei em Palo Alto, o Google fez praticamente 300 aquisições em um ano. Eram deals de US$ 80 milhões a US$ 100 milhões que trouxeram muito dinheiro a quem entrou cedo, fazendo 10 vezes, 20 vezes o investimento, sem nem estar perto de ser unicórnio”, disse o investidor.

Participantes do Harvesting Innovation ganharam unicórnios do agro; brinde já virou tradição em eventos do escritório FM/Derraik

Embora encontrar um ‘unicórnio do agro’ não seja obsessão para os investidores, o símbolo do sucesso entre as startups causou furor no evento promovido pela SP Ventures. Como já ficou tradicional nos eventos do escritório de advocacia FM/Derraik, especializado em venture capital, os participantes levaram para casa um unicórnio de pelúcia. Desta vez, com chapéu e roupa de cowboy.

As teses do momento

Entre as teses nas quais a Barn está mais focada recentemente, está a rastreabilidade focada em segurança alimentar. O investimento nessa área é motivado por cinco motivos principais: controle de qualidade, sustentabilidade, supply chain, acesso a mercado e tomada de decisão, segundo Zaclis.

Também de olho em capturar as mudanças de mercado de forma assertiva, a Mandi Ventures procura principalmente empresas relacionadas à genética. O racional é o de que uma curva com novas tecnologias — seja para aumentar produtividade ou enfrentar novas doenças — é vista com bastante potencial, mesmo sendo uma tese de longo prazo.

“Os Estados Unidos produziam de 250 milhões a 300 milhões de caixas de laranja por ano. Por causa do greening, essa produção anual hoje está em 30 milhões de caixas. O maior produtor brasileiro produz 40 milhões de caixas”, exemplificou Moreira Salles.

No caso da Rural Ventures, essa abordagem está mais ligada à saúde do solo, de olho em identificar os melhores tratamentos a partir de tecnologia apropriada para isso.

“Estamos finalizando um aporte em uma empresa que faz análise do DNA do solo”, disse Fernando Rodrigues, fundador da Rural Ventures.

Fora da porteira, os investidores Bernardo Milesy, da Glocal Latam, e Kieran Gartlan, da The Yield Lab, ressaltaram a necessidade de investimentos em teses altamente escaláveis. Agfintechs e empresas ligadas ao monitoramento geoespacial, por exemplo, são teses que ganham espaço.

“Tudo que gera insights, visibilidade e dados, quanto menos deep science for, a gente gosta. Se tem uma tese muito agronômica, pesa um pouco. Gostamos do que é mais agnóstico, produz dados para o produtor e deixa tudo mais democrático e inclusivo”, disse Gartlan.

Em contraponto às teses mais ‘pop’, empresas ligadas à pecuária, por exemplo, ainda encontram dificuldade de crescerem no venture capital. A dificuldade de trazer escala, por exemplo, é um fator que torna investidores receosos, ao menos por enquanto.

“É um setor muito informal, com um ativo que passa por muitas mãos, em um mercado de alta concentração”, resumiu Zaclis.