Num ano de azedume com as ações brasileiras, resultados abaixo do consenso em ações de pouca liquidez viram tombos. Que o diga a goiana Jalles Machado, que desabou 5% no pregão desta quinta-feira.
Divulgados ontem à noite, os resultados da companhia sucroalcooleira na safra 2023/24 mostram os reflexos dos preços baixos do etanol ao longo do período, o que castigou as ações. No safra, o Ebit da companhia caiu quase 70% (para R$ 181 milhões).
A política de hegde de açúcar também pesou negativamente no resultado. Como trava os preços com quase dois anos de antecedência, a Jalles só capturou uma parte da disparada da commodity, explicou o diretor financeiro Rodrigo Siqueira, em teleconferência com analistas durante a tarde.
Se o curto prazo desanimou, as perspectivas à frente parecem mais promissora. Com os investimentos que fez para ampliar a capacidade, a Jalles deve ter um mix mais açucareiro na safra 2024/25, colhendo mais benefícios dos preços altos. A expectativa é que o açúcar represente 50,6% da produção da empresa nesta safra, bem acima das 37,5% do ciclo passado.
Na teleconferência com os analistas, Siqueira destacou um aumento de 30% no preço do açúcar vendido pela Jalles, o que já está garantido graças aos novos contratos de hedge firmados pela companhia.
Etanol vai subir?
Além das perspectivas otimistas para o açúcar na safra 2024/25, a Jalles Machado também conta com um cenário mais benigno para o etanol — que sofreu um tombo de preços no ano passado. Usando estimativas da corretora SCA, a companhia apontou um preço médio do biocombustível em geral em torno de R$ 3 neste ano, ante R$ 2,58 no ano passado.
O aumento nos preços está relacionado à recuperação do consumo de etanol, um cenário inverso ao de 2023, em que o PIS/Cofins isento para a gasolina trouxe uma demanda “atrasada” para o combustível ao longo do ano.
Caso o consumo se mantenha nos patamares atuais, em cerca de 4 bilhões de litros ao longo dos últimos dois meses, haveria um déficit de 3,2 bilhões de litros para consumir etanol no país até o fim do ano. Com ajuste de oferta e demanda, os preços tendem a aumentar.
“Temos uma grande vantagem, ainda mais com o mix mais açucareiro. Conseguimos estocar etanol e esperar momentos com um mercado melhor para acelerar essa venda”, disse o CFO.
Lição de casa
Além de considerar preços melhores para o açúcar e etanol, a Jalles Machado apresentou aos investidores no guidance para 2024/25 um aumento da capacidade de moagem, passando de 7,4 milhões de toneladas para 8,23 milhões.
Com isso, 91% da capacidade produtiva da companhia estará preenchida, cumprindo a projeção de chegar a 100% até 2026.
Mais do que aumentar a moagem, a companhia também vai aumentar a produtividade, passando de 84,2 milhões de toneladas por hectare para 88 milhões. Esse combo de fatores fez o analista Thiago Duarte, do BTG Pactual, ressaltar a capacidade de crescimento da companhia em longo prazo.
“Os múltiplos de curto prazo podem indicar um potencial limitado de upside para o papel, mas nós esperamos que o desconto aumente à medida que o crescimento dos resultados operacionais decole nos próximos anos”, escreveu.
Com o ciclo de capex de R$ 517 milhões anunciado em 2021 chegando ao fim, a Jalles Machado deve ter desembolsos de R$ 93 milhões neste ano para este plano, o que levanta questionamentos sobre novas avenidas de crescimento daqui para frente.
Siqueira mencionou brevemente opções como biometano e etanol de milho, afirmando que mais detalhes serão fornecidos no evento a investidores da companhia, a ser realizado nos próximo dia 4 de julho.
“Estamos muito animados com todos os ajustes de percurso para usufruir do mercado de açúcar, que está bem melhor do que o etanol, além de aumentar volume de moagem para essa safra, com uma capacidade maior. É um ano que começa bem melhor do que o ano passado”, diz Siqueira.