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Agroconsult adiciona um Paraná à estimativa de milho da Conab

Agroconsult encontra mais 400 mil hectares de milho em revisão de estimativa, e adiciona um volume equivalente à produção do Paraná à projeção da Conab

Colheita de milho

Contrariando todas as expectativas, o Brasil vai colher, pela segunda vez na história, mais de 100 milhões de toneladas de milho safrinha. A estimativa foi apresentada nesta terça-feira pela Agroconsult, que atualizou os dados de área plantada com sua nova metodologia. A consultoria encontrou mais 400 mil hectares de milho segunda safra no País, elevando o número de produção para 100,5 milhões de toneladas.

O número é 12,4 milhões de toneladas maior do que a previsão mais recente da Conab, de 88,1 milhões de toneladas. A diferença corresponde a praticamente toda a safra do Paraná, segundo maior produtor do País.

A oferta abundante no Brasil ajuda a explicar a depressão nos preços do milho em reais apesar da forte aceleração do dólar. O indicador Esalq/Cepea está praticamente estável nos últimos 30 dias, mesmo com a alta de 8% da moeda norte-americana no mesmo período —que praticamente anulou a queda da commodity na bolsa de Chicago.

“Temos milho sobrando”, disse André Pessôa, sócio e CEO da Agroconsult.

As exportações do cereal na safra 2023/24 devem ficar em 42 milhões de toneladas, uma queda de 23% em comparação com o recorde da temporada anterior. Apesar do recuo, o volume representa um desafio para o setor diante da programação ainda fraca de embarques.

“Pela disponibilidade que temos e pela questão cambial, ainda tem espaço para colocar 42 milhões de toneladas (no mercado externo). Teríamos condições de exportar até mais do que isso”, disse Pessôa.

Mas há alguns desafios: além dos tradicionais gargalos logísticos, as tradings precisam lidar com o ritmo lento de vendas por parte dos produtores (apenas um terço da colheita atual foi comercializada) e com a maior concorrência no mercado internacional em meio a ofertas abundantes nos Estados Unidos e na Argentina.

O suporte aos preços tem vindo da demanda doméstica, que deve crescer 6% na safra 2023/24. A principal influência vem da indústria de proteína animal, que deve consumir 60,1 milhões de toneladas de milho, mas também dos produtores de etanol, que já demandam 16,6 milhões de toneladas.

De onde vem tanto milho?

Segundo a Agroconsult, os produtores brasileiros plantaram 16,7 milhões de hectares com milho na segunda safra. Antes de aplicar o seu novo modelo de cálculo, atualizado com imagens de satélite, a Agroconsult estimava a área em 16,3 milhões de hectares. Com a revisão, a empresa encontrou mais 400 mil hectares de milho, o que foi crucial para a nova estimativa de produção de 100,5 milhões de toneladas.

É daí, também, que vem a grande diferença para os dados da Conab, que no mês passado estimou a área de milho safrinha em 16,15 milhões de hectares. A visão da Agroconsult para a produtividade também é mais otimista do que a do governo — com uma média de 100,6 sacos por hectare ante 90,9 sacos da Conab. Isso significa que a diferença entre a estimativa oficial de produção e a da Agroconsult ultrapassa 12 milhões de toneladas. É quase todo o volume colhido no Paraná, segundo maior produtor do País.

A revisão da metodologia de estimativa de safra da Agroconsult já havia sido apresentada nos resultados da safra de soja, quando a consultoria “achou” mais 1,2 milhão de hectares plantados com a oleaginosa.

A janela ideal

O plantio antecipado da safrinha também contribuiu para que a redução de área não fosse tão grande como a esperada inicialmente pelo mercado. Nos principais produtores (Mato Grosso, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul), o calendário de plantio foi o melhor desde 2018/19. Com as condições para a semeadura altamente favoráveis, incluindo a umidade do solo, os agricultores acabaram reduzindo a área em apenas 5% —antes do plantio, falava-se em uma redução de até dois dígitos.

Durante o desenvolvimento da safra, no entanto, as chuvas foram muito irregulares, causando grandes diferenças de produtividade. Houve também uma alta infestação de pragas, com destaque para a cigarrinha. Goiás foi o único estado com ganhos de produtividade em comparação à safra anterior.

Soja: 170 milhões de tons?

A Agroconsult manteve a sua previsão de uma pequena redução na área de soja na safra 2024/25, mas a justificativa mudou um pouco. Além dos preços desanimadores, Pessôa disse que as consequências das enchentes de maio no Rio Grande do Sul devem encolher a área de soja no estado.

Mesmo assim, o Brasil pode colher um novo recorde considerando a manutenção dos investimentos em fertilizantes e defensivos e um quadro de neutralidade climática. Para o fundador da Agroconsult, o País tem potencial para produzir 170 milhões de toneladas. “Essa é a grande pressão sobre os preços”, afirmou. (Colaborou Victória Roberta)

A versão inicial desta reportagem continha um erro. O consumo de milho para a produção de etanol deve ser de 16,6 milhões de toneladas na safra 2023/24, e não de 13,3 milhões de toneladas conforme o informado anteriormente (volume que se refere à safra anterior).