Biocombustíveis

Na onda do biometano, Adecoagro investe para quintuplicar a produção

Com expansão da produção do biocombustível em Mato Grosso do Sul, empresa vai abastecer 20% do consumo atual de diesel. ANP contabiliza pelo menos 23 novas plantas

Planta de biometano da Adecoagro em Ivinhema (MS) | Crédito: Divulgação
Planta de biometano da Adecoagro em Ivinhema (MS) foi a primeira do Estado a produzir o biocombustível a partir de vinhaça | Divulgação

A Adecoagro, empresa de origem argentina com operações agrícolas também no Brasil e no Uruguai, está dobrando a aposta no biometano com um investimento de R$ 225 milhões em Mato Grosso do Sul. E ela não está sozinha.

O projeto, anunciado em evento nesta quinta-feira com a presença do governador sul-mato-grossense Eduardo Riedel, é parte de uma onda de investimentos no País para produzir o biocombustível gasoso que pode substituir o diesel no setor de transportes. Pelo menos 23 plantas de biometano (em construção ou programadas) estão registradas na ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Os dados, apresentados pelo economista Alexandre Mendonça de Barros durante um evento no mês passado, suportam a projeção de um crescimento potencial de 20% na produção de biometano pelo setor sucroenergético em dez anos.

Usando subprodutos do processamento da cana —como a vinhaça, a torta de filtro e a palha— como matérias-primas, as usinas têm potencial para produzir 6,1 bilhões de normais metros cúbicos (Nm3) em 2033, segundo projeção da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

A Adecoagro contribui para a estatística. No caso da empresa, que tem capacidade de processamento de 13 milhões de toneladas de cana em suas duas usinas no Mato Grosso do Sul (além de mais 1,2 milhão de toneladas em uma planta em Minas Gerais), a vinhaça é o principal insumo para a produção do biometano. A vinhaça é um subproduto do processo de fermentação do caldo da cana usado na produção de biogás, que, após um processo de purificação, é transformado em biometano.

A Adecoagro produz biometano no seu cluster do Mato Grosso do Sul desde 2018, quando o seu atual biodigestor foi entregue. Hoje, a produção é de aproximadamente 6 mil Nm3 por dia —o equivalente a 2 milhões de diesel equivalente por ano.

Com a construção de dois biodigestores adicionais até 2028, a produção de biometano vai atingir 10 milhões de litros de diesel equivalente —o suficiente para abastecer 20% do consumo atual de diesel da companhia, calculado em 50 milhões de litros anuais.

“Estamos bastante otimistas com o futuro do negócio. Vamos continuar usando o biocombustível na frota interna, mas em algum momento vamos vender biometano para fora também”, disse Renato Pereira, vice-presidente de açúcar, etanol e energia da Adecoagro no Brasil, ao The AgriBiz.

Falta preço

A Adecoagro avalia a possibilidade de vender biometano a diversos clientes, segundo o executivo. Mas Pereira admite que a precificação do produto ainda está longe do ideal. “Como a molécula do biometano é idêntica à do gás natural, o seu preço acaba sendo balizado com o do gás natural”, explicou.

O único atributo ambiental em termos financeiros, no momento, é a geração de CBIOs a partir do uso do biocombustível em sua frota própria, mas o valor acaba não sendo tão relevante para a empresa.

“Em algum momento, esse atributo verde vai ter que se valorizar para incentivar a oferta de biometano numa velocidade maior”, afirmou.

O setor aguarda com ansiedade o texto final do projeto de lei “Combustíveis do Futuro”, que tem um capítulo sobre biometano. Se o texto for aprovado com metas de adoção para este biocombustível, a perspectiva para essa rota de combustível alternativo muda. Aprovado pela Câmara, o projeto está em análise no Senado.

Por enquanto, a Adecoagro estima uma economia de aproximadamente R$ 50 milhões por ano na compra de combustível fóssil, considerando o preço atual do diesel. O investimento será integralmente financiado pela Finep.

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Com ações negociadas na Bolsa de Nova York, a Adecoagro está avaliada em aproximadamente US$ 1 bilhão. As ações da empresa, que tem sede em Luxemburgo, sobem 2% em 12 meses.

Além de produzir açúcar, etanol e bioenergia no Brasil, a Adecoagro também atua no cultivo de grãos e no setor de lácteos na América do Sul. Da receita total de US$ 1,44 bilhão reportada em 2023, metade foi proveniente das operações no setor sucroenergético brasileiro.