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O rali do arroz com feijão: Camil dispara 7%; em um ano, ação já subiu 32%

Companhia da família Quartiero surpreendeu positivamente ao fazer um Ebitda bem acima do consenso

Camil

As ações da Camil, a maior indústria de beneficiamento de arroz e feijão do país, entraram num rali nesta sexta-feira. A companhia da família Quartiero surpreendeu boa parte dos analistas, entregando um resultado acima do que o consenso de mercado esperava para o trimestre fiscal encerrado em maio.

Na bolsa, as ações da Camil subiram quase 7%, fechando o pregão desta sexta-feira com a empresa avaliada em R$ 2,9 bilhões. Em doze meses, os papéis já subiram mais de 30% e o negócio ainda parece subavaliado, especialmente se a gestão conseguir desalavancar a companhia e retomar os níveis históricos de margem Ebitda — perto de 10%.

No balanço trimestral divulgado ontem, a Camil surpreendeu positivamente ao fazer um Ebitda bem acima do consenso Visible Alpha. De março a maio, a companhia registrou um Ebitda de R$ 255 milhões, 11% além expectativas médias dos analistas do sell-side.

A rentabilidade da Camil veio principalmente dos resultados da operação internacional, que compensaram a brusca queda de volumes com preços maiores e entregaram margem Ebitda mais forte dos últimos dois anos, de 9,5%, avanço de 2,3% na comparação anual. A área internacional responde por 26% das vendas da Camil.

Nas contas dos analistas do Citi, a diminuição de 17,5% no volume comercializado no exterior também ajudou reduzir as despesas com vendas, o que teve um efeito positivo sobre as margens considerando que o preço médio aumentou 30%.

A companhia também conseguiu reduzir as despesas gerais e administrativas (G&A, na sigla em inglês). No trimestre, essa linha diminuiu 12,2% na comparação anual, um reflexo da maior eficiência com pessoal (redução de despesas com salários, encargos, e uma reversão de parcela do programa de participação nos lucros), escreveu Renata Cabral, analista do Citi.

Esse combo de mais vendas com despesas menores chegou à última linha do balanço. No período, o lucro líquido da empresa totalizou R$ 79 milhões — 27% acima do que o consenso projetava e 23% maior do que o resultado do mesmo período do ano passado.

Descasamento no Uruguai

Em teleconferência com analistas, o CEO Luciano Quartiero disse ontem que a perda de volumes estava relacionada, principalmente à operação internacional, um reflexo do “descasamento temporário das exportações no Uruguai”. No Brasil, a Camil cresceu no trimestre.

A operação local entregou um aumento de volume de 14% no segmento de produtos de alto valor (café, massas e pescados), o que se traduziu em um aumento de receita de 6% na comparação com o mesmo período de 2023 — isso tudo em um ambiente deflacionário, observou o BTG Pactual, em um relatório assinado pelos analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla.

A receita de produtos de alto giro (arroz, feijão e açúcar), que possuem margem menor, cresceu em dois dígitos no trimestre, apoiada principalmente no preço mais alto do arroz, uma vez que não houve crescimento significativo de volume. No período, as vendas com os produtos de alto giro somaram R$ 338 milhões, 65% do total.

Camil descontada

“Nós continuamos otimistas na ação já que os preços altos de commodities (arroz e feijão) continuam a indicar um potencial positivo de ganhos para 2024. Além disso, acreditamos que a companhia vai continuar entregando um patamar de despesas gerais e administrativas em linha com o que aconteceu nesse trimestre”, diz Renata Cabral, do Citi.

Um reforço positivo para a história está, também, no desconto da ação. Mesmo depois de uma valorização de mais de 30% em doze meses, o Citi vê a Camil sendo negociada a um múltiplo (EV/Ebitda) de 5,2 vezes, abaixo da média histórica de 6,5 vezes.

A valorização esperada pelos analistas para a Camil passa por um período de recomposição de margens, ao mesmo tempo em que desalavanca seu balanço, depois de gastar R$ 1 bilhão em aquisições nos últimos três anos. Um exemplo da alocação desses recursos está no mercado de café, em que a empresa pretende chegar aos 5% de share nacional.

“Acreditamos que a dinâmica de lucro pode se sustentar e gerar um Ebitda de R$ 1 bilhão em 2024”, escreveram os analistas do BTG Pactual. “Oportunidades de expansão em novas categorias são raras entre as empresas listadas de bens de consumo essenciais, tornando a Camil uma das poucas histórias de crescimento genuíno nesse espaço”, ressaltaram.