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“Financiar o agro é vocação, não é moda”, diz Itaú BBA

Pedro Fernandes, diretor de agro do Itaú BBA, diz que inadimplência no banco está controlada; ‘é importante ter cabelo branco conta na hora de emprestar dinheiro’

O Itaú BBA vem navegando com tranquilidade em um momento de stress no mercado de crédito. Enquanto algumas gestoras de Fiagro contornam atrasos em pagamentos, a inadimplência no banco de investimentos no agronegócio está controlada, mesmo diante de um forte crescimento em suas operações de crédito, segundo o diretor de agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes. A explicação está em uma das fortalezes do conglomerado financeiro: cultura de baixo risco.

“Gostamos de um bom negócio que não nos traga surpresas, esse é o norte na seleção de ativos”, afirma Fernandes. A preferência por negócios mais resilientes (lê-se empréstimos a taxas de juros mais baixas e prazos mais longos) tem se mostrado acertada este ano, em que a queda no preço das commodities e diversos atrasos na cadeia –de entregas a comercialização— estão levando desequilíbrios ao setor.

“Nossa carteira continua com um nível de atraso muitíssimo baixo, a inadimplência está controlada”, disse Fernandes em entrevista ao The Agribiz.

O seu histórico com crédito também tem feito a diferença para os números do banco de investimentos, que espera encerrar o ano com uma carteira no agro 30% maior do que em 2022, atingindo R$ 97 bilhões. Também ajuda àqueles que estão dispostos a aprender com a experiência.

O RURA11, o Fiagro que tem o Itaú BBA como consultor e é gerido pela asset do Itaú, tem passado ileso pelos eventos de crédito recentes, ressaltou Fernandes. Entre os Fiagros, o RURA11 é o que tem maior número de emissores no portfólio (46) e uma concentração menor por emissor (R$ 19,9 milhões, em média).

Com um patrimônio líquido de quase R$ 978 milhões, o fundo distribuiu R$ 0,14 por cota em junho, um yield de 1,33% ao mês. A média da indústria ficou em 1,35%, com os maiores retornos ficando em 2,57% (o Fiagro do Banco do Brasil) e 1,57% (fundo da Leste), segundo dados do StatusInvest. Em termos anualizados, o RURA11 pagou o equivalente a 18,02%.

“É um pouco da lógica de ter um time que financia o agronegócio há 20 anos”, disse Fernandes. Ter um pouco de cabelo branco, já ter emprestado dinheiro e não ter recebido, é importante para saber emprestar de novo. […] Financiar o agro é vocação, não é moda”.

Para o executivo, que trabalha há 20 anos no banco — os últimos cinco na diretoria de agronegócio —, a indústria de Fiagro tem crescido de forma “muito saudável”, o pode evitar traumas entre os investidores caso ocorram performances negativas. “Vemos cada vez mais CPFs investindo nos Fiagros, CRAs, LCAs, gerando funding mais estável para as empresas e pedindo como retorno mais governança”, disse.

Ele vê um processo de evolução no setor, a exemplo do que aconteceu anos atrás com os fundos imobiliários. “Tem muita gente trazendo teses diferentes com execuções que vão se mostrar mais ou menos eficientes. A performance vai diferenciar os melhores gestores ao longo do tempo. Muitas vezes, boas teses ficam pelo caminho”.

Gestão de risco

O baixo nível de vendas antecipadas da safra 2023/24 pelos produtores rurais é visto com preocupação pelo executivo, que vê a nova safra exigindo maior austeridade e gestão de riscos do agricultor. Apesar da relação de troca entre os preços dos insumos e os grãos estar favorável ao produtor, a maioria tem travado custos sem fixar o produto, ancorados na expectativa de que preços do passado possam se repetir.

Sede do Itaú BBA na Faria Lima: Carteira de crédito agro do banco de investimento deve fechar o ano em R$ 97 bilhões | Crédito: Divulgação

“O produtor tem dificuldade de aceitar que a sua margem, que chegou a 60%, agora convergiu para a média histórica de 35%”, disse Fernandes. E aí mora o perigo: “Ao longo do tempo, observamos que não fazer gestão de risco pode implicar em frustração de caixa importante e em dificuldades financeiras”, afirmou.

O agricultor precisa de previsibilidade para pagar suas dívidas, e torcer pela alta dos preços pode ser uma armadilha. “Muitas décadas de trabalho duro podem ser colocadas em risco por uma especulação de preços.”

Mesmo diante de riscos mais altos, o Itaú BBA trabalha com aumento na área plantada e produção na próxima safra. “A produção agrícola voltou a ser um bom negócio. Nos últimos anos, ela foi espetacular”.

Expansão

Entre os grandes bancos, o Itaú foi o último a investir pesado no crescimento do agro, por meio do Itaú BBA. Mas a aposta cresceu nos últimos anos. A instituição deve terminar 2023 com 30 escritórios regionais que atendem a cerca de 100 cidades no interior do País — nove a mais em comparação com os 21 escritórios físicos no final do ano passado. O time de agro do banco tem mais de 700 pessoas hoje, ante apenas 30 no final de 2019.

A principal exposição do banco é da porteira para dentro, com a maior parte dos financiamentos atendendo a produtores de soja e de milho com faturamento anual acima de R$ 5 milhões. Agricultores de menor porte também podem ser atendidos por meio de cooperativas. A principal estratégia do banco é financiar o setor a juros livres, fugindo das amarras do crédito rural. “Conseguimos customizar o cronograma de pagamentos de acordo com o cliente.”