O agrônomo Fernando Reis não esconde o que faz brilhar os olhos. “Gosto de tirar os negócios do chão e vender boas empresas. Estou na terceira.” Depois de vender a Fast Agro à Nitro Química e atrair sócios como Mosaic e SP Ventures para a Gênica — o negócio de insumos biológicos fundado por ele —, o empreendedor serial agora quer fazer a Agroadvance deslanchar no universo da educação.
Fundada pelo jovem Pedro Bernardes, um agrônomo formado pela Esalq, a Agroadvance estreou há três anos oferecendo cursos livres nas áreas de soja e milho, mas ainda sem escala e diversidade de portfólio. A história começou a mudar no ano passado, quando a startup fez uma rodada de investimentos que atraiu o próprio Reis, SP Ventures e Baraúna.
A rodada mudou o jogo e as funções. Bernardes passou a ocupar o cargo de chefe de operações e Reis assumiu como CEO. A equipe, que era de apenas 11 pessoas, já se aproxima de 80. No ano passado, a Agroadvance multiplicou o tamanho por nove e deve dobrar neste ano, faturando perto de R$ 15 milhões.
“Nosso faturamento com cursos livres ainda tem potencial para quintuplicar, mas só agora estamos abrindo a nossa maior avenida”, disse Reis ao The Agribiz. A Agroadvance acaba de lançar seu primeiro MBA, com foco em gestão no agro, um curso com tíquete médio maior.
Graduação vem aí
A chegada do MBA marca a estreia da Agroadvance na área de cursos regulados — o que inclui pós-graduação e graduação —, um negócio com muito mais potencial. Primeira leva de cursos regulados, o MBA é o primeiro passo da startup, que já está em conversas para adquirir uma faculdade.
“Vamos ter graduações em agronomia e administração focada em agro”, contou Reis. A ideia é que os cursos de graduação sejam lançados em 2025, com um campus em Piracicaba — um polo de atração especial pela proximidade com a Esalq e diversas agtechs.
Uma das ambições da Agroadvance é fazer no agro o que a Afya, healthtech listada na Nasdaq, fez na educação em saúde, se tornando uma referência em medicina (um curso com tíquete médio maior). “Nós queremos posicionar nossa administração em agro com uma mensalidade de R$ 5 mil, R$ 6 mil”, diz. O público-alvo, preferencialmente, são filhos de produtores rurais.
Fluxo de caixa
Antes de chegar lá, o sucesso do MBA será crucial. A aceitação do curso é um teste para validar a incursão da Agroadvance pelos cursos regulados. Se tudo der certo, a Agroadvance terá o alicerce para ir adiante com os planos da graduação. Para isso, a startup buscará uma nova rodada de investimentos, uma série A da ordem de R$ 25 milhões.
Enquanto isso, Reis vem trabalhando para fazer o MBA ganhar tração. Os esforços incluem a atração de executivos renomados em gestão e agro como professores, o que incluem nomes como Junior Crosara (Fundação Dom Cabral), André Savino (Syngenta), Francisco Jardim (SP Ventures), a agricultora Saria Junqueira Rodas e Antonio Ortiz (ex-Itaú BBA).
Com um ano e meio de duração e 500 horas de aula, o MBA tem preço de tabela de R$ 22 mil, mas sai com descontos razoáveis para pagamentos à vista ou em poucas parcelas. Para a Agroadvance, é uma forma de encurtar o descasamento de fluxo de caixa que uma operação como essa causa no primeiro momento.
“Gostamos de ter Ebitda positivo, mas não necessariamente a geração de caixa vem no início. Quando você parcela o curso em 18 vezes, tem um desencontro. O custo vem na hora, mas a receita demora um pouco mais”, explica Reis.
Concorrência
A Agroadvance não foi o único player privado a enxergar a lacuna na formação de mão-de-obra no agro. A iniciativa mais antiga é a Rehagro, uma companhia mineira que recebeu investimentos das gestoras 10B, ligada à Tarpon, e GK Ventures (de Eduardo Mufarej).
Mais recentemente, o empresário Chaim Zaher se associou aos professores Marcos Fava Neves e Roberto Fava Scare, da consultoria Markestrat, para fundar a Harven, uma faculdade do agro que será instalada em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Para Reis, a concorrência está longe de ser um problema. “Essa não é uma tese de winner takes all. O espaço é tão grande que precisamos de muitas boas escolas privadas. Quem sabe até no futuro não possamos formar uma liga”, concluiu.