A Minerva Foods começou a devolver capital de giro para o balanço, sinalizando a melhora de uma linha que sofreu bastante no primeiro trimestre com a restrição de crédito provocada pelo escândalo da Americanas (os bancos haviam fechado a torneira para o risco sacado).
No resultado divulgado no início desta noite, a Minerva mostrou que voltou a gerar caixa livre. A companhia dos Vilela de Queiroz gerou R$ 191,3 milhões no segundo trimestre. O montante seria maior, de R$ 323,3 milhões, não fossem as despesas com hedge cambial (R$ 132 milhões).
Aos poucos, os bancos vão reabrindo as linhas de risco sacado, liberando o capital da Minerva que estava alocado no financiamento a fornecedores (basicamente, pecuaristas). No segundo trimestre, a linha de risco sacado — designada no balanço como convênios — liberou cerca de R$ 150 milhões. Como um todo, a conta de fornecedores devolveu R$ 317 milhões ao balanço.
Numa entrevista recente ao The Agribiz, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, já havia sinalizado que a companhia estava conseguindo a melhora de capital de giro que prometera aos analistas em maio, quando fez a call dos resultados do primeiro trimestre.
Na ocasião, o executivo disse que as contas de capital de giro poderiam melhorar em R$ 600 milhões ao longo de 2023, devolvendo boa parte dos R$ 800 milhões que a companhia consumiu no primeiro trimestre (efeito colateral da crise da Americanas).
Demanda chinesa
Em entrevista nesta quarta-feira, executivos da Minerva comentaram os resultados do do segundo trimestre. A demanda da China, um tema chave entre investidores, anima a companhia para o segundo semestre.
Fernando Galletti de Queiroz, presidente da Minerva, reconheceu que a demanda chinesa ainda não foi espetacular no segundo trimestre, mas o ritmo e os preços estão melhorando. “O segundo trimestre ainda foi pós-ressaca, ainda sofrendo com o fechamento das vendas do Brasil para China no primeiro trimestre”, disse ele, lembrando do embargo temporário provocado pelo caso atípico de vaca louca.
Depois de um período em queda, os preços da carne bovina na China agora estão exibindo bons sinais, assegurou. “Os preços pararam de cair e se recuperaram para um novo patamar. Isso mostra uma inflexão na curva e mostra como está a demanda”, argumentou Galletti.
Resultados versus consenso
No segundo trimestre, o resultado operacional da Minerva veio acima do consenso dos analistas. Na média, os analistas consultados pela Bloomberg esperavam um Ebitda de R$ 684 milhões. A Minerva entregou R$ 711 milhões, com margem de 9,8% — 0,6 ponto acima do mesmo período do ano passado.
A receita, no entanto, veio um ligeiramente abaixo da expectativa dos analistas, um reflexo dos preços mais baixos da carne no mercado internacional. No trimestre, a companhia fez uma receita líquida de R$ 7,27 bilhões, queda de 13,4%. O consenso apontava para R$ 7,32 bilhões.
No lucro líquido, a Minerva fez R$ 120,7 milhões enquanto o mercado projetava R$ 246 milhões. Neste caso, as despesas com hedge cambial fizeram a diferença (para baixo).
Dividendos
Segundo Ticle, a companhia conseguiu manter a estrutura de capital saudável mesmo com um começo de ano mais desafiador. “Temos a menor alavancagem do setor”, disse. Em junho, o indicador (relação entre dívida líquida e Ebitda) estava em 2,7 vez, uma discreta piora em relação às 2,6 vezes registradas em março.
Nessa conjuntura, a Minerva decidiu antecipar o pagamento de dividendos. A companhia vai distribuir R$ 114 milhões em dividendos agora em agosto, um valor já relativo aos resultados do ano de 2023.
O montante equivale a cerca de 50% do lucro do acumulado do ano. Pela política da Minerva, esse é o mínimo de provento a ser pago aos acionistas quando a alavancagem está em 2,5 vezes ou abaixo, indicativo de que a alavancagem deve convergir para esses níveis ao longo do ano.
A Minerva está avaliada em R$ 6,2 bilhões. No ano, a ação cai 13,3%.