O ciclo negativo das proteínas voltou a arranhar o balanço da JBS, mostrando como a estrutura de capital da companhia construída durante a bonança será crucial para atravessar o momento e preservar as conquistas dos últimos anos — a começar pelo grau de investimento.
No resultado do segundo trimestre, que acaba de ser divulgado, a JBS veio com um Ebitda ajustado de R$ 4,5 bilhões. Trata-se de queda de quase 60% na comparação anual, quando a oferta de gado nos Estados Unidos ainda ajudava os lucros da companhia. Em margem, a JBS perdeu mais de seis pontos, com o indicador saindo de 11,2% para 5%.
O resultado operacional mais acanhando teve um impacto significativo no índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda). O indicador saltou de 1,64 vez em junho do ano passado para 3,87 vezes, o que ocorreu mesmo com a companhia mantendo a dívida estável. Em março, estava em 3,14 vezes.
“É um cenário bem desafiador para o setor de proteína”, reconheceu o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista ao The Agribiz. No trimestre, a companhia teve um prejuízo de quase R$ 200 milhões e a receita chegou a R$ 89,4 bilhões, queda de 3% em base anual. Mas a boa notícia é que o pior parece estar passando.
Quando comparados aos resultados do primeiro trimestre, quase todas as unidades do grupo tiveram um desempenho superior (a exceção foi o negócio de carne de porco nos EUA). “Ainda estão abaixo das nossas expectativas, mas já melhoraram”, disse.
Em termos de alavancagem, o pico está próximo. A JBS ainda deve ver o indicador subindo neste terceiro trimestre — algo inevitável, considerando que o próximo resultado trimestral vai substituir as margens boas de 2022 pelo desempenho mais magro deste ano. Depois disso, a tendência é de queda.
“A alavancagem parece estar alta, mas temos uma posição confortável e estamos gerando caixa”, ressaltou Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS. No segundo trimestre, a companhia registrou um fluxo de caixa livre de R$ 1,8 bilhão, o que foi ajudado por uma melhora substancial nas contas de capital de giro.
Segundo Cavalcanti, a queda dos preços dos grãos já liberou US$ 150 milhões do capital de giro da JBS no segundo trimestre e deve devolver mais US$ 300 milhões no segundo semestre, considerando o que as cotações dos grãos no mercado futuro sinalizam.
Além disso, a companhia conseguiu reduzir os estoques em US$ 110 milhões. Parte desse montante estava relacionado à carne bovina brasileira, que ficou travada entre o primeiro e segundo trimestre por causa do embargo temporário da China, mas o volume agora já foi escoado.
A tendência para a geração de caixa também é positiva, disse Cavalcanti. “Devemos gerar caixa nos próximos dois trimestres”.
Mesmo que as margens sigam abaixo dos patamares dos últimos anos, o que é até provável considerando que o ciclo da pecuária nos Estados Unidos deve ser marcado por restrição na oferta de gado pelo menos até 2024, a JBS já começa a ver a alavancagem melhorando.
Se as margens da JBS rodarem em 5% no restante deste ano e convergirem para 6,5% nos próximos dois anos, a companhia voltaria a uma alavancagem de 2,5 vezes em 2025. Considerando o histórico, esse cálculo é um tanto conservador. Na média dos últimos cinco anos, a margem Ebitda da companhia foi de 10%. Nos últimos dez anos, de 8,8%.
O objetivo de longo prazo da JBS é ficar com uma alavancagem de 2,5 a 3 vezes, preservando o grau de investimento.
A JBS está avaliada em R$ 42,3 bilhões. No ano, a ação cai 6,7%.