Opinião

O colapso no valuation da Indigo — sinal de alerta para as agtechs?

Com uma estratégia confusa que mais parecia um labirinto, o agora ex-unicórnio americano ceifou sonhos e empregos

No início desta semana, um anúncio retumbante ecoou pelo mundo do venture capital, principalmente naquelas firmas e startups focadas em ag&food tech: a avaliação da Indigo AG despencou impressionantes 94%, de um valuation de US$ 3,5 bilhões há poucos anos para apenas US$ 200 milhões, mostrou uma reportagem publicada nos EUA.

Para muitos, a reação ao colapso da Indigo foi sucinta: nenhuma surpresa. Porém uma frase repetida em vários grupos de WhatsApp chamou a atenção — “demorou mas chegou”.

A Indigo não foi o único caso recente. No começo do ano, também vimos o quase desaparecimento da Granular, uma startup comprada por US$ 300 milhões há alguns anos atrás pela Corteva — essa possivelmente padeceu com os imensos desafios da integração com grandes corporações.

Esta série de eventos não são apenas duros golpes para fundadores e investidores, mas também uma dura realidade para as pessoas que trabalham nestas organizações. São empresas que cresceram rapidamente, arrecadando milhões de dólares em rodadas de financiamento, mas aparentemente sem uma base real e sustentável para o crescimento. Muitos sonhos foram interrompidos e muitos empregos foram perdidos.

Há alguns anos, visitei os impressionantes escritórios da Indigo. Dois andares amplos, mas estranhamente silenciosos, me cumprimentaram. Talvez a equipe estivesse em campo, como deveria estar, ou talvez fosse um sinal precoce de que uma empresa estava lutando para encontrar seu rumo. Rumores indicavam que a Indigo dificilmente fazia sentir a sua presença onde era mais importante — no campo, apesar de alegadamente ter uma participação considerável do mercado de produtos biológicos, um negócio de mais de US$ 10 bilhões.

Em retrospectiva, é possivel dizer que a Indigo começou com um objetivo promissor: introduzir micróbios benéficos nas terras agrícolas. Essa missão era clara, inovadora e tinha potencial para revolucionar a agricultura. No entanto, com o passar do tempo a Indigo pareceu perder o foco.

Dos produtos biológicos, mudaram para os serviços financeiros, um setor com um tamanho muito atraente de mercado de mais de US$ 400 bilhões. Também experimentaram uma incursão pela logística, outra indústria de grandes proporções, e depois aventuraram-se na criação de um marketplace com soluções financeiras integradas.

Eles não pararam por aí. Também lançaram um programa de carbono visando mais uma vez um mercado em crescimento, estimado em cerca de US$ 3 bilhões. Para quem está de fora e talvez até para quem estava dentro, a direção da empresa se tornou confusa. Resumindo, a jornada de Indigo virou um labirinto.

Diante das confusões e do colapsto agora conhecido, é essencial ver este caso num contexto mais amplo. O cenário global de capital de risco ou capital empreendedor está vivenciando uma mudança sísmica —muito necessária— após uma década de rápida expansão, com investimentos totais a atingirem um pico de US$ 300 bilhões.

As startups agora passam por avaliações mais rigorosas. Empresas como a Indigo, com estratégias pouco claras, estão sofrendo o impacto dessa correção do mercado.  Mas ainda há muito potencial no horizonte. Prevê-se que o mercado de tecnologia agrícola dispare para impressionantes US$ 46 bilhões.

Qual vai ser a chave para empreendimentos futuros? Foco em agregar valor real, garantindo tração e, caso seja necessária uma mudança de direção, fazer com precisão e foco inabalável.

Após o colapso do valuation da Indigo, a indústria de venture capital tem muito a refletir e aprender. Precisamos permanecer vigilantes, adaptáveis e consistentemente orientados por resultados tangíveis. Esse valuation possivelmente nunca foi verdadeiro, então tendo a concordar: demorou, mas chegou.