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iRancho atrai Banco do Brasil em rodada de R$ 7,2 milhões

Startup fundada por Thiago Parente desenvolveu uma tecnologia que pode ajudar frigoríficos no desafio de rastrear os fornecedores indiretos

“Quando começamos a falar em tecnologia para fazer a rastreabilidade do gado, todo mundo dizia que não ia dar certo. Agora só se fala nisso”. A frase é de Thiago Parente, o fundador da iRancho.

Depois de ter nascido com um software de gestão desenvolvido para as necessidades do pecuarista, a startup brasileira agora quer dar tração ao Safe Beef, tecnologia que promete ajudar os frigoríficos no desafio de rastrear a origem dos fornecedores indiretos de gado.

Se for bem-sucedida, a nova tecnologia da iRancho — a startup pediu o registro da patente no INPI — atacará aquele que é o maior gargalo para o monitoramento dos rebanhos na Amazônia.

Confinamento de gado no Brasil
Confinamento de gado no Brasil; iRancho tem tecnologia para monitoramento de fornecedores indiretos | Crédito: Shutterstock

A tese da iRancho está ganhando adeptos (e recursos). A startup acaba levantar R$ 7,2 milhões com o Banco do Brasil, o maior financiador do agro nacional. A rodada de equity, a segunda da história da startup, foi realizada por meio da MSW Capital, a gestora do BB Ventures — veículo de corporate venture capital do banco público.

Para Moisés Swirski, sócio da MSW Capital, a iRancho alia benefícios sociais e ambientais, dois temas fundamentais para o Banco do Brasil.  “Seu sistema permite que pequenos e médios pecuaristas aprimorem seu padrão de manejo e demonstrem o cuidado com que desenvolvem e protegem o meio ambiente”, disse o gestor.

ERP da pecuária

A iRancho vem crescendo de 5% a 7% ao mês apenas com o software de gestão de fazendas. Num modelo de mensalidade, a companhia já atende mais de 3,5 mil fazendas (perfazendo um rebanho de 3,3 milhões de cabeças), com um faturamento anualizado da ordem de R$ 4,5 milhões.

“Apesar do crescimento acelerado do ERP, ainda somos pequenos. Entendi que era a hora de acelerar com o Safe Beef”, disse Parente ao The Agribiz. Diante da demanda por sustentabilidade ambiental na pecuária, a oportunidade com a tecnologia de rastreamento é muito maior, afirmou.

Além de contribuir com as necessidades dos frigoríficos que precisam demonstrar o monitoramento dos fornecedores indiretos de gado, a tecnologia de rastreabilidade desenvolvida pela iRancho também pode ajudar bancos e seguradoras a usarem o animal como garantia de operações.

Historicamente, acompanhar a garantia sempre foi “um ponto de muita dor” das instituições financeiras porque o animal se move, afirma Parente, citando um dos grandes tabus do financiamento à pecuária. Com o Safe Beef, a iRancho consegue acompanhar a vida inteira do animal, do pasto até virar carne na mesa do consumidor.

O monitoramento do animal começa com a leitura periódica do brinco, trazendo informações que dão a localização exata do animal. O sistema também permite que a alimentação do gado seja conhecida, o que também pode ajudar em protocolos de bonificação do pecuarista.

Assim que faz a leitura do brinco, as informações vão para um sistema em blockchain, o que reserva a integridade dos dados. Segundo Parente, o acompanhamento do animal ao longo de toda a vida também ajuda a evitar fraudes.

“Alguém poderia comprar 10 mil brincos para simular a vida de 10 mil animais? Até poderia, mas seria mais caro e pouco eficiente”, disse o fundador.

Além disso, Parente confia que, cada vez mais, os pecuaristas terão benefícios por práticas ambientalmente corretas. Uma delas pode ser taxas de juros mais baixas para os produtores que garantem a rastreabilidade do rebanho.

Pecuária desde a infância

Criado em Brasília, Thiago é filho do ex-ministro Pedro Parente e se aproximou da pecuária ainda na infância, quando passava os finais de semana na fazenda de um tio na goiana Inhumas.

Formado em tecnologia, fez mestrado em agronegócios e trabalhou na sede da JBS nos EUA, em Greeley (Colorado). Voltou ao Brasil em 2016 e fundou a iRancho ao lado do zootecnista Junior Cavalli.

Antes de atrair o Banco do Brasil, a startup de Parente já havia feito uma primeira rodada de R$ 1,5 milhão com Agroven — rede de investidores anjos que investem em agtechs — e BRAngels.

Com o peso de um banco como o BB no cap table, a ambição agora é se tornar uma referência global. “Queremos nos tornar a maior base de rastreabilidade de proteína animal no mundo”, disse Parente. Neste primeiro momento, a tecnologia de rastreabilidade da iRancho só está disponível para os clientes do software de gestão da startup, mas em breve o Safe Beef terá um aplicativo próprio para que outros pecuaristas possam acessar (de forma gratuita). A ideia é também integrar o Safe Beef com outros sistemas de gestão de fazendas.