Frigoríficos

A Minerva entre o enigma chinês e o caos da Argentina. BTG corta projeções

A Minerva parecia o melhor caminho para aproveitar a combinação de ciclo favorável na pecuária brasileira — maior oferta de gado e, portanto, boi mais barato — e demanda chinesa, mas os primeiros meses do ano mostraram um percurso acidentado.

A companhia controlada pela família Vilela de Queiroz esbarrou na muralha chinesa e no (interminável) caos argentino, o que já tirou mais de 20% do valor de mercado de BEEF3 neste ano. A Minerva fechou o pregão de segunda-feira avaliada em R$ 6,1 bilhões.

Responsável por 60% das exportações brasileiras de carne bovina, a China ficou fora do mercado por quase todo o trimestre por causa do caso atípico de vaca louca. Além disso, a retomada do ritmo de vendas – e principalmente os preços – parecem demorar mais que o inicialmente esperado.

As dificuldades econômicas na Argentina, que costumava representar mais de 15% das vendas da Minerva, também não devem ser superadas tão cedo, como os executivos já haviam sinalizado. 


“Enquanto não vermos uma situação mais favorável do ponto de vista de rentabilidade na exportação, não tem porque insistirmos nessa operação”, disse o CEO, Fernando Galletti de Queiroz, na última teleconferência.

No quarto trimestre, aliás, as receitas da grupo brasileiro em território hermano caíram drasticamente (-42,7%), concentrando os esforços em alimentos processados e tirando o pé de carne in natura.

“Embora pareça razoável presumir que os spreads irão melhorar quando as exportações do Brasil para a China forem retomadas, tememos que este seja um processo gradual, com resultados melhorando apenas de forma mais significativa no segundo semestre”, escreveram os analistas do BTG Pactual, num relatório publicado ontem.

BTG corta preço-alvo da Minerva

Por causa dos sinais menos promissores, o banco cortou as projeções para os resultados da Minerva. Os analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Bruno Lima mantiveram a recomendação de compra, mas reduziram o preço-alvo para as ações em 25%, de R$ 20 para R$ 15.

“As estimativas anteriores se tornaram muito otimistas”, escreveram os analistas. Ao revisar os números, o BTG cortou a previsão de receita da Minerva em 5,1% (para R$ 32,2 bilhões em 2023), enquanto a projeção para o Ebitda foi reduzida em quase 13% (R$ 3,1 bilhões).

Reflexo da retomada mais lenta das vendas de carne bovina à China, a margem Ebitda da Minerva também deve ser menor que o esperado, ficando em 9,7% no ano, segundo os analistas. A previsão anterior superava 10,5%.

Mesmo com a piora do cenário inicialmente desenhado, a Minerva ainda é a preferida do BTG entre os frigoríficos listados, mas os analistas também reconheceram que o curto prazo é duro para as ações das companhias de proteína animal.

“É um momento difícil para os investidores em busca de oportunidades no setor de proteínas, e esperamos que isso continue por algum tempo. Mas Minerva continua sendo uma história mais segura em relação a seus pares locais e, portanto, nossa preferência permanece”.

Quando os preços e volumes exportados à China se normalizarem, o ciclo da pecuária tende a favorecer a Minerva. Ao mesmo tempo, players como JBS e Marfrig ainda terão de lidar por mais tempo com a piora das margens no negócio de carne bovina nos Estados Unidos.