Agtech

BrasilAgro derruba avaliação da Agrofy

Brasilagro fez um impairment de R$ 4,8 milhões relativos ao investimento na Agrofy, mas avaliação pode se recuperar se companhia se tornar operacional

A Agrofy, um marketplace de insumos e equipamentos agrícolas, sofreu uma brutal redução de avaliação no balanço da BrasilAgro, companhia que havia investido mais de US$ 1 milhão na agtech.

“É uma companhia pré-operacional e, pelo balanço, a gente não conseguia defender o valor desse investimento com os auditores”, explicou Gustavo Lopez, diretor financeiro e de relações com investidores da BrasilAgro, numa teleconferência com investidores nesta quarta-feira.

No relatório que acompanha as demonstrações financeiras, a BrasilAgro informou que fez um impairment de R$ 4,8 milhões relativos ao investimento na Agrofy. No último balanço, o valor da startup no ativo da BrasilAgro ficou em apenas R$ 1,2 milhão, um corte de 80%.

Feira virtual da Agrofy
Brasilagro fez impairment dos R$ 4,8 milhões investidos na Agrofy, marketplace de insumos e equipamentos agrícolas | Crédito: Divulgação

Isso não significa que o investimento não será recuperado. Segundo Lopes, a avaliação pode se recuperar caso a Agrofy se converta em uma companhia operacional.

“Entendemos que devíamos ser os mais conservadores possível”, justificou, lembrando que negócios de tecnologia costumam ser geridos com indicadores diferentes dos modelos convencionais que ditam as regras no balanço patrimonial. O assunto foi tema de uma pergunta de um analista que participou da call.

Para uma fonte que conhece a Agrofy de perto, os argumentos da BrasilAgro para o impairment surpreenderam. “Não é uma companhia pré-operacional e ela faz receita há alguns anos”, disse.

Corte de custos

Desde 2022, a startup também vem se ajustando ao novo ambiente de venture capital, com muito menos liquidez. Nesse cenário, os fundadores da Agrofy decidiram que a startup não podia ficar dependente de novas rodadas para se sustentar. Diante disso, estão cortando custos e a meta é chegar ao breakeven no ano que vem.

Fundada na Argentina, a Agrofy se expandiu para o Brasil nos últimos anos e atraiu sócios relevantes para ir além do marketplace, buscando se tornar também uma plataforma de serviços financeiros e crédito (um mercado endereçável bem maior).

No fim de 2021, a Agrofy anunciou uma rodada série C de US$ 30 milhões liderada pela Yara Growth Ventures. Os investidores incluem Bunge Ventures, Syngenta Ventures, Fall Line Capital, ACRE, SP Ventures, Glocal, BrasilAgro, Capria, Endeavor, Draper Cygnus e Lartirigoyen, além dos argentinos da Cresud (veículo da família Elsztain que é o maior acionista da Brasilagro) e a própria Brasilagro. Desde a fundação, a startup já levantou US$ 66 milhões com investidores.

Procurada, a Agrofy enviou uma nota rebatendo as críticas de que seria uma companhia pré-operacional. A startup também destacou que seu Ebitda vem crescendo quase 20%. Abaixo, a nota na íntegra:

“A Agrofy esclarece que as informações reportadas pela BrasilAgro dizem respeito ao seu próprio balanço contábil e fiscal, não representando ou oferecendo um impacto à performance e à estratégia da Agrofy, nem, tampouco, ao seu valor de mercado (valuation). Fundada na Argentina, em 2015, e com 5 anos de operação no Brasil, a agtech funciona como um ecossistema de soluções digitais, por meio de seu marketplace especializado em produtos e tecnologia para o agronegócio. Diferente de uma empresa pré-operacional, a Agrofy está  presente em oito países e seu marketplace reúne mais de 6 mil marcas e mais de 150 mil produtos e serviços. Na contramão do atual cenário de investimentos, a empresa busca alcançar o breakeven antes mesmo do que havia sido planejado, tornando sua operação ainda mais eficiente. Tanto é que entre julho de 2022 e julho de 2023, a companhia registrou um crescimento de Ebitda de 17%”.

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Correção: Na versão original desta matéria, constava que a BrasilAgro fez um impairment de 100% na Agrofy, o que reduziria o valor da agtech a zero no balanço da companhia agrícola. A informação havia sido prestada por Gustavo Lopez em teleconferência com investidores, mas o calculo correto é de 80,3%.

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