Depois de anos cultivando uma base de investidores pessoas físicas, a BrasilAgro colheu nesta quarta-feira os benefícios de remunerar os acionistas com frequência. Na esteira da divulgação do balanço da safra 2023/24, as ações da companhia agrícola dispararam.
No fechamento, as ações da BrasilAgro subiram 5,9%, cotadas a R$ 25,75 na B3. Uma das maiores produtoras agrícolas do país, a empresa fundada pelos argentinos da Cresud ao lado de Tarpon e Elie Horn (da Cyrela) está avaliada em R$ 2,4 bilhões. Durante o pregão, os papéis chegaram a valorizar mais de 9%.
A disparada da BrasilAgro ocorre após a companhia informar que vai distribuir R$ 320 milhões em dividendos (R$ 3,24 por ação), o equivalente a um yield de 13,3% ao ano. O pagamento dos proventos ainda precisa ser aprovado em assembleia que será realizada em outubro.
Em teleconferência com analistas na manhã desta quarta-feira, o CEO da BrasilAgro, André Guillaumon, disse que o modelo de negócios da companhia consegue sustentar o pagamento de dividendos mesmo quando o negócio de produção agrícola vai pior como foi o caso na última safra, em que custos altos e a forte queda dos preços das commodities (soja e cana, sobretudo) apertaram as margens da companhia.
Na safra 2023/24, o Ebitda operacional da BrasilAgro encolheu 57% (R$ 187,6 milhões), com a margem saindo de 37% para 21%. Em contrapartida, o negócio imobiliário da companhia sustentou os resultados. A receita com venda de fazendas cresceu 41%, atingindo R$ 445 milhões.
Bom pagador de dividendos
“Honramos o compromisso de ser bons pagadores de dividendos”, disse Guillaumon. A remuneração é uma das chaves para o crescimento da base de acionistas da companhia, um esforço para o qual os executivos da BrasilAgro gastaram muita sola de sapato e lives com investidores e influenciadores.
“Trabalhamos de forma incessante para mudar a cara da liquidez da companhia. Saímos de 15 mil a 20 mil acionistas, há três ou quatro anos, para mais de 125 mil”, disse o CEO.
Para preservar uma base de acionistas, o executivo descartou uma operação de recompra de ações, um tema questionado por um investidor que participou da teleconferência.
Segundo ele, um número maior de acionistas pode sustentar oportunidades de compras no futuro – eventualmente, para financiar a compra de uma grande área. “Se voltar ao mercado, não tenho dúvida de que vocês vão nos acompanhar de novo em uma nova emissão”, disse.
O executivo falava apenas em hipóteses, até porque a BrasilAgro possui uma alavancagem muito baixa – relação entre dívida líquida e Ebitda é de apenas 0,1 vez e a companhia ainda tem R$ 709 milhões em recebíveis de fazendas vendidas.
Perfil vendedor
No curto prazo, a BrasilAgro ainda é mais vendedora do que compradora de terras. Guillaumon ainda vê o produtor capitalizado, apesar da piora de margens com a queda dos preços dos grãos.
Com o perfil mais vendedor dos últimos anos, a Brasilagro conseguiu provar a tese que deu origem à companhia, se tornando uma vendedora recorrente de fazendas.
No modelo de negócios da empresa, há operação agrícola (grãos, cana, boi e outras culturas) e transformação de propriedades rurais que são comercializadas depois de alguns anos com bons retornos.
Nos últimos cinco anos, as fazendas vendidas pela BrasilAgro deixaram uma TIR (Taxa Interna de Retorno) entre 13,6% e 56,5%. A última venda ocorreu em junho, com a Fazenda Jatobá. A área de 3,2 mil hectares foi vendida por R$ 121 milhões, com uma TIR de 16%.