No fim do ano passado, a equipe de analistas liderada por Thiago Duarte, do BTG Pactual, indicou que a safra 2024/25 seria o ano da verdade para a tese de investimentos na Raízen, há tempos defendida pelo banco, se comprovar.
Nas prévias do primeiro trimestre divulgadas ontem à noite, o que se viu foi uma apenas pequena pista: a Raízen segurou as vendas de açúcar e etanol, de olho em margens melhores nos trimestres subsequentes.
De abril a junho, a controlada de Cosan e Shell aumentou a moagem de cana-de-açúcar em 15%, batendo 31 milhões de toneladas, mas manteve a comercialização de açúcar e etanol em patamares estáveis na comparação anual.
No caso do açúcar, a Raízen vendeu 1,8 milhão de toneladas, ante uma produção de 3,7 milhões de toneladas. Segundo os analistas do sell side, a decisão deve se traduzir em uma queima de caixa expressiva na divulgação completa dos resultados, prevista para o dia 13 de agosto.
Mas não há motivos para pânico. Os preços do etanol e do açúcar estão menores na comparação com o mesmo período do ano passado, mas já se nota uma tendência gradual de melhora que poderá ser capturada com estoques que foram acumulados.
No trimestre, os preços do biocombustível e do adoçante praticados pela Raízen caíram 3% e 13%, respectivamente, em base anual. Em relação ao quarto trimestre, no entanto, o preço médio já subiu 14% no mercado de etanol e 6% no açúcar.
“Estamos particularmente otimistas com o horizonte de preços do etanol para o segundo semestre, o que dá suporte à estratégia da Raízen. Em relação à distribuição de combustíveis, estamos confiantes de margens saudáveis no Brasil, contanto que a companhia consiga estancar a perda de market share dos últimos trimestres”, escreveram os analistas do BTG, em relatório divulgado nesta manhã.
Esses dois fatores têm uma importância fundamental no cálculo do Ebitda da companhia para o período. Nas contas do BTG, a Raízen deve ter R$ 2,9 bilhões no trimestre, avanço de quase R$ 1 bilhão na comparação anual.
Para chegar a esse montante, o banco considera, na distribuição de combustíveis, um Ebitda por metro cúbico de R$ 156, ante R$ 64 no mesmo período do ano passado, um efeito positivo da menor importação de diesel russo aparecendo no balanço.
No caso de açúcar e renováveis, o banco espera um desempenho estável, considerando que as vendas mais magras sejam compensadas por custos menores.
Ao longo da safra, os analistas esperam que a Raízen possa colher os investimentos feitos nos últimos anos em renovação do canavial e no E2G, que consumiram mais de R$ 15 bilhões desde o IPO.
Se isso se confirmar, a trajetória de desalavancagem deve se consolidar, o que pode se traduzir nas ações da companhia, reduzindo a diferença para os concorrentes listados.
Atualmente, a Raízen é negociada com múltiplo 25% abaixo dos pares (Vibra, Ultra e São Martinho), com o papel oscilando perto dos R$ 3. Confirmadas as perspectiva promissoras traçadas pelo banco, as ações podem mais do que dobrar de valor, chegando aos R$ 7, estimaram os analistas.
Em bolsa, a Raízen está avaliada em R$ 31,3 bilhões. No ano, os papéis caem 25%.