A quarta geração da família Tyson, controladora da maior companhia de carnes dos Estados Unidos, enfrenta uma encruzilhada. Em meio a um processo de reestruturação que inclui a venda de abatedouros de frango, a gigante avaliada em mais de US$ 20 bilhões sofre com uma crise sucessória (e reputacional).
Com 32 anos, John Randal Tyson, bisneto de John W. Tyson — o empresário que sobreviveu à Grande Depressão e fundou a Tyson Foods em 1931 —, era o mais jovem a comandar as finanças da uma companhia da Fortune 500, o grupo das maiores empresas dos Estados Unidos.
De perfil gentil e um dos poucos a desafiar o temperamento irascível do pai (John H. Tyson, de 70 anos), o jovem executivo parecia fadado a assumir a cadeira de CEO e, futuramente, substituir o pai na presidência do conselho de administração da Tyson Foods. Mas só parecia.
Os problemas com álcool podem ter minado a carreira de John Randal Tyson, deixando a gigante americana das carnes sem um sucessor claro. Há dois meses, o executivo foi preso por dirigir embriagado, um comportamento reincidente que provocou o afastamento do executivo.
Não é uma questão trivial. Em uma indústria que costuma prosperar quando há um dono atuante — no Brasil, a história da BRF não deixa mentir —, a Tyson Foods pode estar enfrentando uma questão existencial.
Em uma longa reportagem publicada no The Wall Street Journal no sábado, o jornalista Patrick Thomas destrinchou a trajetória da Tyson Foods, desde os primeiros anos no Arkansas, e o significado dos problemas enfrentados pelo bisneto do fundador da companhia.
Sina
As agruras de John Randal Tyson não são uma questão isolada, mas uma sina que atormenta a família. As gerações anteriores do jovem executivo, incluindo o pai e o avô, Don Tyson, também sofreram com o vício.
O uso excessivo de álcool levou Don Tyson várias vezes à prisão por dirigir embriagado, até que perdeu a habilitação, mostrou o The Wall Street Journal. “Papai é um homem de negócios sério e um sério apreciador de álcool. Ele faz as duas coisas bem”, disse em certa ocasião o filho John H. Tyson, que também sofreu com o vício (em álcool e cocaína).
Assim como ocorre agora com John Randal Tyson, John H. Tyson e Don Tyson também tiveram problemas na sucessão, no início dos anos 2000. De personalidade explosiva, o atual presidente do conselho de administração da Tyson Foods chegou a ser demitido do cargo de CEO pelo pai após a pressão de executivos da Tyson, e só voltou como chairman após a morte de Don, em 2011.
A história talvez possa se repetir, com John Randal Tyson retomando as funções na companhia ao longo do tempo. Afinal, com uma ação com superpoder de voto, a família Tyson detém mais de 70% do poder político, e uma decisão como essa é perfeitamente possível.
De qualquer forma, o desafio está posto.
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A Tyson Foods acaba de divulgar os resultados trimestrais. Para mais detalhes, leia aqui.