Ferrovias

A todo vapor: reajuste antecipado turbina o resultado da Rumo

No segundo trimestre, a companhia registrou um Ebitda ajustado de R$ 2,1 bi, 14% acima do consenso dos analistas

Rumo

A Rumo não só bateu as expectativas do mercado por larga margem no segundo trimestre, como sinalizou que bom momento não será um efeito isolado em apenas um balanço.

Ontem à noite, a operadora de ferrovias controlada pela Cosan aumentou as projeções de Ebitda do ano, num movimento que evidencia o trabalho de ganho de margem para que a companhia vem fazendo e as perspectivas mais otimistas para a safra 24/25.

Nas contas da equipe de analistas liderada por Lucas Marquiori, do BTG Pactual, a Rumo vai entregar um crescimento de 37% em Ebitda em relação a 2023, considerando o ponto médio do novo guidance (R$ 7,75 bilhões).

Neste ano, a companhias deve transportar de 80 a 82 bilhões de toneladas por quilômetro útil, ou TKU (ante uma projeção anterior de 81 a 84 bilhões), com um Ebitda de R$ 7,6 bilhões a R$ 7,9 bilhões. Antes, a Rumo previa conseguir, no máximo, R$ 7,7 bilhões.

A Rumo vem se beneficiando, essencialmente, dos ganhos obtidos a partir de contratos firmados com antecedência para o transporte ferroviário na safra 2023/24 — em fase final de colheita. Na operação Norte, por exemplo, o reajuste da tarifa chegou de 38%. (Em meio às margens comprimidas dos grãos, as tradings não ficaram muito felizes com a renovação antecipada, mas agora já foi…).

Acima do consenso

No balanço do segundo trimestre, divulgado ontem à noite, a Rumo registrou um Ebitda ajustado de R$ 2,1 bilhões, 14% acima do consenso Bloomberg, com margem de 60%, mesmo em um cenário desafiador em volumes.

Ao todo, o volume de grãos transportados com destino ao Porto de Santos cresceram 2,5%, mas o mercado em geral teve uma retração de 5%, um efeito colateral da quebra de soja no Centro-Oeste e da comercialização mais lenta dos grãos. 

O resultado trimestral ainda reflete a diluição de custos variáveis no período. A companhia conseguiu aumentar o volume de açúcar que transporta a partir de logística própria, num movimento que também deve perdurar para os próximos meses, indicou a gestão em teleconferência nesta manhã. 

Para a safra 2024/25, que começa a ser plantada dentro de um mês, as expectativas da Rumo são ainda mais positivas, tendo em vista o aumento estimado de 8% na produção de soja (168 milhões de toneladas) e de 5% nas exportações (103 milhões de toneladas).

Na safra de milho, mais perspectivas positivas. As contas da Rumo para 2024/25 apontam para 135 milhões de toneladas de produção e 46 milhões de toneladas de exportação, aumento de 9% e 26%, respectivamente. A recuperação, nestes casos, deve vir principalmente do Sul e do Mato Grosso do Sul.

A companhia ainda não deu detalhes a respeito de como as dinâmicas de preços devem se comportar nesse cenário, mas manteve a visão construtiva.

“O fundamento de frete do mercado segue bastante positivo. Com as perspectivas de safra e recuperação de produtividade, vamos manter a nossa jornada de valor justo por nossos serviços como uma prioridade”, disse Felipe Saraiva, gerente executivo de RI da Rumo, na teleconferência.

Investimentos

No trimestre, a Rumo manteve o ritmo forte de investimentos.  O capex chegou a R$ 1,2 bilhão, 70% maior do que no mesmo período do ano passado, em que se destaca o pico de investimentos na ferrovia do Mato Grosso, hoje com 4 mil trabalhadores e 1,3 mil máquinas operando. 

Na semana passada, a Rumno também anunciou uma joint-venture com a cooperativa de origem americana CHS para construir um novo terminal no Porto de Santos, em uma área que pertencia à DPW. O terminal terá capacidade de 12,5 milhões de toneladas por ano, sendo 9 milhões para grãos e 3,5 milhões para fertilizantes.

Aos analistas, o diretor de RI da Rumo ressaltou que a companhia vem trabalhando para induzir mais capacidade no porto, não só em terminais, mas no próprio acesso a eles, como a pera ferroviária no porto de Santos, que aumentará em 20 milhões de toneladas por ano o escoamento de grãos, atendendo 13 terminais. 

Entre eles, destaca-se o STS11, terminal de grãos cuja operação está a cargo do grupo estatal chinesa Cofco. O terminal tem, em média, 12 milhões de toneladas de capacidade estática, dividida entre grãos e açúcar — e tem um papel importante em trazer mais capacidade para o ecossistema. 

“Nós vemos este como o primeiro grande bloco de crescimento de capacidade no porto, focado em 2025 e 2026, como a própria Cofco tem falado. Nossa parceria com a CHS mira um segundo bloco de crescimento, vislumbrando capacidade em médio prazo”, afirmou Saraiva.

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Diante de crescimento esperado, boa parte dos analistas recomenda a compra das ações da Rumo. Nas contas dos analistas do Goldman Sachs, as ações da companhia de logística ferroviária negociam a um múltiplo (EV/Ebitda) de 7,4 vezes, mas um patamar próximo de 8,5 vezes seria mais justo.

Nesta quinta-feira, o mercado reage positivamente aos resultados da Rumo, com os papéis subindo cerca de 4%. Negociada na B3, a Rumo está avaliada em R$ 45 bilhões. Um dos raros casos de valorização no Ibovespa, as ações da companhia sobem mais de 8% no ano.