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Com crescimento acelerado e altos retornos, a 3tentos está uma barganha

Negociada a 11 vezes lucro para 2025, companhia aumenta Ebitda em 30% ao ano e entrega ROIC de 20%, uma combinação quase imbatível

Fábrica da 3tentos, em Vera

No mal-humorado mercado de ações brasileiro, estar barato já não é mais suficiente para chamar a atenção. É necessário um esforço quase hercúleo de unir o tamanho do desconto a uma capacidade de execução ímpar, além de altos retornos. Nesse seleto nicho, cabe hoje, com folga, a 3tentos

Em números, a companhia da família Dumoncel está negociada a 11 vezes o lucro esperado para 2025, um patamar considerado barato para o nível de crescimento que entrega, na visão dos analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual.

Nos últimos anos, a empresa tem aumentado o Ebitda em cerca de 30% e entregado um ROIC (retorno sobre o capital investido) na casa dos 20%. Essa combinação torna a empresa, hoje, uma barganha – e reúne motivos suficientes para acreditar em um re-rating em breve. 

Entusiastas da tese, os analistas reforçaram a recomendação de compra para o papel em um relatório divulgado nesta sexta-feira. No material, revisaram as estimativas para 2024 e 2025, à luz dos resultados surpreendentes apresentados no primeiro semestre.

A dupla aumentou a projeção de receita em dois dígitos para os dois anos, mas, pelo menos em 2024, não espera que esse crescimento se transforme em ganho de margem na mesma magnitude.

Ainda sob os desafios dos preços de fertilizantes e de insumos, bem como enfrentando o aumento de custos logísticos no Mato Grosso, a 3tentos deve ter uma expansão discreta de margem, de 2 pontos percentuais em relação ao ano anterior, fechando 2024 em 19,7%. Um avanço em relação ao ano passado, mas um patamar ainda distante dos 23,7% reportados em 2022. 

Também sob essa ótica, o BTG reduziu as projeções de Ebitda e de lucro para 2024 e 2025, em cerca de 20% para cada ano. Mesmo depois de corrigir as próprias expectativas, os analistas são ligeiramente mais otimistas do que o consenso: o research projeta um lucro líquido de R$ 477 milhões para este ano (5% acima do consenso) e de R$ 533 milhões para o ano seguinte (9% acima do consenso).

Força de sobra

Apesar dos desafios de curto prazo, a mensagem principal do relatório é de que a capacidade de execução da 3tentos se sobressai, tornando a companhia um case único. “Sempre consideramos a empresa uma aposta de crescimento com alta qualidade em um dos setores mais interessantes e de alto potencial do Brasil”, escrevem os analistas.

Não é apenas um wishful thinking, mas um ponto para o qual há evidências já comprovadas. Na divisão de revendas, por exemplo, a 3tentos tem mostrado seus diferenciais ao se aproveitar do momento amargo para a concorrência para ganhar participação de mercado de forma acelerada.

As 11 novas lojas instaladas pela empresa no Mato Grosso já responderam por 21% da venda de insumos no primeiro semestre, mesmo estando ainda nos primeiros estágios de maturação (que podem levar até quatro anos). A companhia planeja chegar a 71 lojas neste ano (ante 63 em 2023) e atingir a marca de 100 unidades até 2030. 

Na indústria, divisão que carregou os últimos resultados nas costas, pelo menos três motivos apontam que o bom desempenho visto no primeiro semestre deste ano não é uma exceção. 

Primeiro, o fato de a companhia ter conseguido aumentar em 37% a margem bruta na primeira metade do ano (chegando a R$ 497 por tonelada), ao mesmo tempo em que dobrou a produção de ração. Segundo, o aumento da mistura de biodiesel no combustível (passando de 12% para 14% neste ano). E, terceiro, uma perspectiva de originação de soja favorável, tendo em vista a recuperação da safra no Rio Grande do Sul. 

Colocando todos esses fatores na mesa, os analistas estimam margens de esmagamento de soja em R$ 491 por tonelada em 2024 (alta de 23% ano a ano) e ainda maiores, de R$ 510 por tonelada, em 2025. 

“A execução vai ser um ponto chave, mas a 3tentos tem mitigado muito do risco associado ao seu último ciclo de crescimento. Nós estimamos que a companhia mantenha um nível controlado de alavancagem, de 1,5 vez Ebitda, mesmo com um novo ciclo de capex em andamento”, afirmam os analistas. 

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Listada na B3, a 3tentos está avaliada em R$ 6 bilhões. No ano, as ações acumulam valorização de 12%.