Com a proximidade do início do período úmido, aumentam as expectativas do mercado — especialmente entre os meteorologistas — para a atualização dos modelos de simulações climáticas. Ontem, foi a vez do europeu ECMWF, que roda apenas uma vez por mês, ser atualizado. E ele confirmou: o trimestre formado por setembro, outubro e novembro de 2024 terá chuva abaixo da média em boa parte do Brasil.
Isso não quer dizer que faltará chuva para o plantio por três meses seguidos, mas que a precipitação acontecerá de forma irregular. Em Mato Grosso, maior estado produtor de grãos, por exemplo, apenas novembro será mais úmido e, mesmo assim, em uma área restrita (BR-163 e Parecis). No Vale do Araguaia, a regularização das chuvas irá demorar um pouco mais a acontecer.
As previsões para Mato Grosso mostram que algumas vezes, independentemente da atuação de um fenômeno El Niño ou La Niña, outros fatores fazem com que o padrão de chuva seja semelhante. Em 2023, ano de El Niño, a chuva também atrasou durante a primavera. Talvez uma diferença fundamental entre a safra passada e a próxima safra seja o verão 2025 que, por enquanto, mostra-se mais chuvoso.
Previsão mês a mês
Apesar da expectativa de aparecimento de chuva mais frequente a partir da segunda quinzena de setembro no Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, ela não será intensa suficiente para alcançar a média histórica na maior parte dos municípios.
As maiores anomalias negativas — áreas que têm maior diferença entre o acumulado previsto e a média histórica — são previstas no sudoeste do Paraná, situação que poderá atrasar o plantio da soja e da primeira safra de milho. Há previsão semelhante para a divisa entre Pará, Amazonas e Mato Grosso, mantendo o risco de aparecimento de novos focos de queimadas. Como não há chuva, a temperatura permanecerá bem acima da média em praticamente todo o País.
Em outubro, a área com chuva abaixo da média fica mais restrita ao Matopiba, Pará, Amapá, norte de Goiás e nordeste de Mato Grosso (vale do Araguaia). No Matopiba, aliás, o período úmido inteiro deve ser caracterizado por precipitações irregulares devido à combinação entre um La Niña fraco e o fato de o oceano Atlântico Norte estar mais quente que o oceano Atlântico Sul, junto à costa das regiões Norte e Nordeste.
Se por um lado, a porção norte do Brasil será afetada pela falta de chuva, a precipitação será mais frequente na região Sul e nos estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, pelo menos em outubro. Será um mês favorável para a reposição da umidade do solo e aceleração do plantio de primavera. Por outro lado, a colheita das culturas de inverno será mais afetada pela chuva frequente.
Em novembro, a chuva mais intensa ficará concentrada ao longo da costa das regiões Sul e Sudeste e nos Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (BR-163 e Parecis), Acre e Amazonas. Mais uma vez, as áreas com maior chance de chuva abaixo da média ficam no Matopiba, além do norte de Goiás, nordeste de Mato Grosso (vale do Araguaia) e estados do Pará e do Amapá.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.