Em meio aos sinais de retomada no apetite pelo crédito no campo, pode haver espaço até para fundo novo investir em produtor rural, um perfil que parecia afugentar muito investidor até bem pouco tempo.
Com essa tese, a gestora Éxes saiu a mercado para testar as águas (e o bolso do investidor qualificado) com uma oferta de R$ 300 milhões para o Carajá, um Fiagro FIDC.
Conhecida pelos retornos apetitosos do Araguaia (AGRX11), Fiagro FII listado na bolsa que estrutura e encarteira CRAs de produtores rurais, a Éxes lançou a oferta nesta semana, apostando no apetite do investidor qualificado e no track record da gestora paulistana.
Fundada em 2017 por Bruno Licarião e Artur Carneiro, que se conheceram no BTG Pactual, a Éxes possui mais de R$ 1 bilhão sob gestão, alocados em nove fundos distribuídos em classes como FIDCs, Fiagros, Previdência e Multimercados. Em praticamente todos eles, a gestora se expõe a ativos do agronegócio.
Em processo de captação, o Carajá será o décimo fundo da Éxes e também o maior entre os Fiagros da casa. No AGRX11, por exemplo, o patrimônio líquido é de quase R$ 180 milhões. O Xingu I, outro Fiagro FIDC da Éxes, está em processo de desinvestimento e tem hoje mais de R$ 60 milhões — mas já chegou a ter R$ 250 milhões.
O novo Fiagro da Éxes terá prazo determinado de sete anos. Nos primeiros cinco anos, serão realizados os investimentos e, nesse período, investidores vão receber apenas juros das operações (eventual liquidez será reinvestida). Depois disso, começará o processo de desinvestimentos, em que todo o dinheiro que entrar será devolvido aos cotistas.
“O efeito disso é uma cesta de ativos sintetizada, em resumo. Não é um fundo de prazo indeterminado, que o investidor precisa de liquidez para sair. Aqui ele sabe exatamente quando entra e quando sai. Nós teremos uma concentração de pagamentos semestrais, como um bond ou um título público. É muito mais uma operação de renda fixa do que de renda variável”, explica Bruno Licarião, gestor da Éxes.
Botina suja
A tese da ‘botina suja’, característica da casa fundada pela dupla ex-BTG, permanece também no novo veículo. No ano em que o crédito ao produtor rural foi visto com arrepios, a gestora mostrou que a experiência faz a diferença — e conseguiu passar pelas turbulências entregando rentabilidade.
No Xingu, FIDC da gestora que estreou em 2020 — antes da Lei do Fiagro, portanto —, a rentabilidade da cota subordinada chegou a CDI+18% ao ano. O AGRX11 rendeu 16,2% em doze meses, segundo dados do Clube FII.
“Acreditamos em um relacionamento próximo com o produtor, para ajudá-lo a ter governança. Não é só a concessão do crédito, a gente trabalha muito o ‘pós-venda’. Eu ajudo o produtor a ficar melhor e ele me ajuda diminuindo meu risco. É um ganha-ganha”, resume Licarião.
No Carajá, cerca de 40% dos créditos (CRAs e CPRs) devem ser destinados a produtores rurais de soja, milho, algodão e feijão que tenham, em média, de 3 mil a 20 mil hectares. Além disso, o veículo também deve financiar empresas em todos os elos da cadeia.
O custo dos empréstimos deve ficar em torno de CDI+5% a CDI+6%, no prazo de cinco anos. Boa parte das operações é originada pela própria gestora — que prioriza a originação própria e os mecanismos de acompanhamento após os empréstimos.
“O dinheiro tem que gerar valor para o produtor, no fim das contas. Na nossa cabeça, é um dinheiro que gera casamento de fluxos. Não adianta nada o produtor tomar um dinheiro de curto prazo para financiar um investimento de longo prazo. Nós fazemos esse estudo para o próprio tomador, para mostrar para ele que aquele dinheiro o torna melhor”, diz Licarião.
Na oferta do Carajá, o Éxes está sinalizando um retorno-alvo de CDI+4% ao ano. O cujo prazo de subscrição se encerra na próxima semana (dia 26 de setembro). Como todo Fiagro, o fundo possui isenção de imposto de renda na distribuição de dividendos.