Materializado na quarta-feira à noite com o pedido de recuperação judicial, o colapso da Agrogalaxy foi precedido de semanas de terror na rede de revendas controlada pelo Aqua Capital.
Enquanto ainda tentava parar em pé, a Agrogalaxy viu ruir a réstia de confiança que as gigantes de fertilizantes — incluindo players como Mosaic e Yara — ainda tinham na companhia.
Naquele momento, entre o início de agosto e as primeiras semanas de setembro, os credores perceberam que a companhia estava por um por fio. Esse fio se rompeu definitivamente com a decisão do Banco ABC de bloquear as contas da Agrogalaxy, retirando R$ 36 milhões das contas da companhia na semana passada.
Mas antes do ABC puxar o pino da granada, um grupo que reunia alguns dos credores mais importantes (incluindo gestores de Fiagro e um banqueiro) vinha tentando uma última cartada para evitar a recuperação judicial.
A ideia desse grupo, que dialogou por diversas vezes com o diretor financeiro Eron Martins, era oferecer um empréstimo ponte para a Agrogalaxy conseguir honrar com a amortização de R$ 70 milhões devida aos detentores de CRAs, que venceu na quarta-feira, e outras necessidades financeiras.
Com esse financiamento, a companhia se sustentaria até o início de 2025, quando muitos acreditavam que o cenário para o mercado de insumos agrícolas estaria um pouco melhor, permitindo uma nova rodada de negociações para repactuar e alongar as dívidas.
As tentativas de negociação prosseguiram pelo menos até a última segunda-feira. Depois disso, os diálogos com Martins ficaram mais difíceis.
A preparação para a RJ
Ao mesmo tempo em que conversava com os credores para ganhar fôlego, a Agrogalaxy já vinha articulando a recuperação judicial. No conselho de administração, o assunto foi apresentado pela primeira vez em 27 de agosto, disse uma fonte ao The AgriBiz.
A decisão de rumar para uma recuperação judicial provocou um racha no conselho, o que ficou exposto na renúncia coletiva de cinco membros e do então CEO, Axel Labourt.
Coube a Sebastian Popik e Tomás Romero, os dois sócios do Aqua Capital, rumarem para a RJ — ou para o precipício, como muitos estão encarando, o que certamente vai respingar na firma de private equity como um todo.
Entre credores e alguns membros do conselho da Agrogalaxy, a opção preferencial era tentar uma mediação menos traumática, preferencialmente uma recuperação extrajudicial.
Popik e Romero, no entanto, já estavam decididos. Não à toa, a companhia migrou a sede de São Paulo para Goiânia em 13 de agosto, como mostrou a repórter Camila Souza Ramos no site da Globo Rural.
Teoricamente, a mudança de sede visava ficar mais perto do campo. Para alguns credores, o objetivo de fundo era buscar um judiciário mais amigável, um requinte que irritou mesmo alguns dos credores mais próximos.
No pedido de recuperação judicial, a Agrogalaxy fez uma longa argumentação para justificar suas raízes na terra do pequi.
Citando as diversas aquisições feitas pelo Aqua Capital para montar a rede de revendas ao longo dos anos — e apesar da sede paulistana até pouco tempo atrás — a empresa sustenta que “jamais perdeu sua origem goiana”.
Para se enxergar como goiana, a Agrogalaxy cita a Rural Brasil, revenda de Jataí (GO) que inaugurou a tese de consolidação do Aqua Capital em 7 de outubro de 2016, há quase oito anos.
Os fornecedores
Goiana ou paulista, a reputação da Agrogalaxy dificilmente será reconstruída entre os fornecedores.
A Corteva, gigante de defensivos e sementes, não rompeu o contrato oficialmente, mas, depois de reduzir o volume de negócios com a companhia progressivamente nos últimos meses, praticamente cortou as relações comerciais na semana passada e passou a abordar revendas concorrentes para ampliar os canais de distribuição, apurou The AgriBiz. A Biotrop segue o mesmo caminho.
Da dívida de R$ 3,7 bilhões que a Agrogalaxy possui com fornecedores, R$ 1,1 bilhão já estavam atrasados, admitiu a companhia no pedido de recuperação judicial. Na outra ponta, os produtores rurais também vinham atrasando os pagamentos de forma intensa, numa conta que chegou a R$ 1,6 bilhão.
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Por uma dessas ironias da vida, o banco ABC Brasil e o Aqua Capital estão a apenas quatro andares de distância, no mesmo prédio na Avenida Cidade Jardim. Quando a fase é ruim, nem o elevador ajuda.