O Brasil lidera as exportações das commodities mais negociadas no mundo, mas ainda engatinha no comércio global de frutas, um mercado de maior valor agregado. Embora seja o terceiro maior produtor mundial, o País está longe de ocupar a lista dos maiores exportadores. No ano passado, vendeu ao exterior US$ 1,2 bilhão, o que não chega a 1% das exportações globais.
O gigantesco mercado interno ajuda a explicar as tímidas exportações. “O grosso da indústria está voltado ao mercado interno, que exige pouco. Somos um dos três maiores consumidores de frutas do mundo. Poucos se aventuram a exportar, mas o potencial é enorme”, resume Marcos Jank, coordenador do centro de estudos Insper Global Agro.
A falta de ousadia para explorar o potencial do comércio mundial de frutas tropicais, como manga, melão, uva e abacate, também é explicada por grandes desafios logísticos e comerciais, o que acaba afetando a competitividade dos produtos brasileiros e tornam as vendas no mercado interno mais vantajosas para os produtores.
“Ano após ano, vivemos situações em que é mais interessante para o produtor vender a sua mercadoria no mercado interno do que exportar”, afirma Fernando Barbosa, cofundador e diretor operacional da MBR Company, empresa focada nas exportações de frutas. A velocidade na entrega, o menor risco de perda de qualidade do produto e o fluxo de caixa mais rápido, a bons preços, são fatores que pesam na decisão, acrescenta.
Exportadores relatam que os portos não oferecem condições adequadas para o armazenamento de frutas e que atrasos de até uma semana na chegada de navios são comuns — um ponto crucial para um setor que trabalha com produtos perecíveis.
Também faltam contêineres refrigerados, que são altamente demandados pela indústria brasileira de carnes, uma das mais competitivas do mundo. Sem um ambiente adequado para o transporte, as perdas podem ser grandes.
“Havia um grande potencial para a comercialização de uvas, mangas e melões para a Ásia, mas houve um problema ligado a shelf life. Não havia instrumentos de logística que permitiam que esses produtos chegassem mais rápido, então havia muitas perdas no trajeto. Sem contar a logística doméstica, que também não ajuda”, diz Jank.
O Chile e o Peru, que lideram as exportações de frutas na América Latina, têm feito investimentos em logística aérea para exportar frutas frescas ou resfriadas, segundo o coordenador do Insper.
Outros entraves frequentemente apontados é a exigência de certificação internacional, o que acaba elevando os custos para os produtores, e a falta de padronização das frutas exportadas, uma queixa dos importadores.
Na tentativa de enfrentar essas questões, a MBR busca estabelecer parcerias estratégicas com produtores e estreitar a relação com clientes — desde 2018, por exemplo, mantém um escritório em Barcelona, na Espanha.
Acordos comerciais
O sucesso de vizinhos sul-americanos nas exportações de frutas apresenta algumas lições ao Brasil. Uma delas é a importância de acordos comerciais. “Os campeões de exportação de fruta da América Latina, como o Chile e o Peru, têm acordos muito sólidos e antigos, principalmente com os Estados Unidos e Europa”, diz Jank.
O especialista reconhece os esforços dos últimos governos em abrir mercados para as frutas brasileiras, mas nem sempre isso leva a um crescimento dos volumes exportados, indicando falta de competitividade, ressalta. “O produtor não está preparado”, diz.
O que exportamos?
No ano passado, o Brasil exportou US$ 1,2 bilhão em frutas, segundo dados da Abrafrutas (associação dos exportadores de frutas). O melão lidera a pauta de exportações, que representam cerca de metade da produção. A manga aparece na segunda posição, com 12% da produção sendo exportada.
A região que mais exporta é o Nordeste, principalmente o Vale do São Francisco, com manga e uva, e a região de Mossoró, que produz melão e melancia, segundo a Abrafrutas.
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