O aumento nas taxas de adoção de insumos biológicos é um caminho sem volta — ainda que os percalços recentes do mercado de insumos tenham desacelerado o ritmo de crescimento. Para a Agrobiológica, que nasceu no mercado on-farm e hoje produz também biológicos de prateleira, a busca do agricultor por custos menores voltou a aquecer a demanda por projetos para produção on-farm.
“Em tempos de vacas gordas, o produtor tende a aumentar muito mais o uso de biológicos formulados, porque o custo não é limitante. Agora, quando a rentabilidade do produtor cai e ele precisa reduzir seus custos, o on-farm volta a ganhar tração, porque ele precisa baratear o manejo”, diz Rafael Garcia, CEO e fundador da Agrobiológica, ao The AgriBiz.
Os produtos on-farm chegam a ser 70% mais baratos do que os produtos formulados, segundo Garcia, referindo-se apenas ao custo do controle no campo —ou seja, sem considerar o investimento inicial na instalação da biofábrica. Como esses investimentos são normalmente feitos em regime de comodato, sem o desembolso inicial do produtor, a escolha pelo on-farm pode valer a pena quando a prioridade é custo, acrescenta o CEO.
Na agricultura, nem todos compartilham da mesma leitura. Uma das referências na adoção de biológicos, o empresário Guilherme Scheffer disse recentemente, em entrevista ao The AgriBiz, que os grupos de maior escala já conseguem comprar biológicos formulados em linha com o preço dos produtos on-farm. Para os pequenos e médios — os típicos clientes de companhias como a Agrobiológica —, no entanto, a economia de custos ainda faz sentido.
Sob o ponto de vista da indústria, ter presença nos mercados on-farm e de biológicos de prateleira significa diversificação dos negócios. “Esse é um dos motivos que levaram a Agrobiológica a apostar nas duas frentes”, conta o CEO da empresa, que é controlada pela holding Crop Care, parte do grupo Lavoro. A Agrobiológica, aliás, é a principal fornecedora de biológicos para a rede de revendas.
Tem mercado para todos
Enquanto alguns grandes grupos agrícolas têm demonstrado disposição em reduzir a sua exposição aos biológicos onfarm, reflexo do desenvolvimento e de ganhos de competitividade da indústria de formulados, o custo dos biológicos on-farm tem atraído um outro perfil de produtor. Segundo Garcia, o número de consultas para novos projetos aumentou pelo menos 30% este ano.
Mas o custo não é o único fator determinante para a escolha entre o on-farm e o biológico de prateleira. O porte e, principalmente, o perfil do produtor contam muito, diz Garcia. Agricultores com mais de 2 mil hectares e jovens, normalmente agrônomos, são mais abertos aos biológicos. Além da escala, importante nesse tipo de projeto, produtores que acabaram estudando agronomia costumam aderir mais à ideia por terem um conhecimento mais técnico.
“Tem mercado para todo mundo, e entendemos que o on-farm vai continuar sendo um grande pedaço do mercado. Mas ele nunca vai invadir o outro lado. São acessos diferentes para clientes diferentes”, diz Garcia.
Hoje, cerca de 25% da receita do mercado de biológicos no Brasil vem do segmento on-farm, enquanto outros 75% são produtos formulados. Em área tratada, a participação do on-farm chega a 40%. Na Agrobiológica, que teve uma receita de aproximadamente R$ 200 milhões no ano passado, metade vem do on-farm e a outra metade dos biológicos de prateleira.
Além da urgência na substituição dos químicos diante dos sinais cada vez mais evidentes do aquecimento global, Garcia acredita que a queda nos preços dos biológicos (on-farm ou formulado) vai contribuir para uma aceleração no uso dos biológicos em detrimento dos químicos daqui para frente.
“O número de ferramentas disponíveis também vai aumentar muito. A Agrobiológica tem 50 produtos para lançar em seis anos. E, assim como eu, todo o mercado está preparando um pipeline de inovação. Vai ter muita coisa por aí.”
A batalha da regulação
Enquanto os players de biológicos on-farm contam com os custos mais baixos para ensaiar uma retomada, a batalha em torno da regulação ainda está para ser vencida.
Reginaldo Minaré, presidente da ABBIns — a associação que congrega a maior parte da indústria de biológicos on-farm — vem travando uma disputa com a CropLife, associação que representa as indústrias de defensivos químicos.
Se nada for feito, os produtores que multiplicam microrganismos em suas próprias fazendas entrariam em um limbo jurídico, sujeitos a punições. Em conjunto com outras 52 instituições, defende que o registro dos biológicos siga a mesma lógica do químico.
Uma vez que um princípio ativo foi registrado, novos produtos que usem o mesmo princípio podem ter um processo de registro mais rápido, apenas no Ministério da Agricultura. Segundo Minaré, isso já vale para os químicos, conforme a lei de agrotóxicos sancionada no ano passado.
“Essa lógica está na lei dos agrotóxicos. É um critério muito bom e existe, e deveria valer para o on-farm também, mas há uma tentativa de construir uma barreira de entrada aos biológicos”, criticou Minaré.