Infraestrutura

A oportunidade da Kepler Weber para os próximos 20 anos

Longe da crise, líder em silos agrícolas vê oportunidade de suprir carência de armazenagem de 100 milhões de toneladas em meio a uma produção que não para de crescer

Vista aérea do Terminal 39, no porto de Santos; Kepler está em quase 90% dos terminais graneleiros no porto | Crédito: Karina Souza
Vista aérea do berço do Terminal 39, no Porto de Santos; Kepler está em 88% dos terminais graneleiros do porto | Crédito: Karina Souza

No ano em que tanto se fala sobre os efeitos das mudanças climáticas para o agronegócio, a crescente necessidade de estar preparado para tempos de seca — ou de chuva — mais prolongadas do que o esperado deve destravar uma necessidade adicional por armazenagem, vislumbra Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber. 

“Isso traz a necessidade de ter buffer, ou seja, capacidade excedente. Se você tem uma operação que funciona como um relógio suíço, é uma coisa. Mas num cenário de seca em rios, por exemplo, que pode atrasar embarques em um mês, onde você vai guardar esse produto? Esse aumento de incertezas também deve impulsionar a demanda”, disse o executivo ao The AgriBiz

Por enquanto, é um cenário que está muito mais no discurso do que na prática — o que está longe de ser um problema para a empresa brasileira, que tem uma oportunidade e tanto de crescimento.

Diante do déficit de armazenamento de 100 milhões de toneladas no País, a perspectiva do CEO é de que resolver essa questão deve levar pelo menos 20 anos. “Se a produção não crescesse, isso poderia ser resolvido entre cinco e dez anos, por exemplo”, explica Nogueira.

Entre 2019 e 2023, os principais segmentos em receita para a companhia tiveram um crescimento de três dígitos em receita. A divisão de Fazendas, que responde por pouco mais de um terço do faturamento da companhia, faturou R$ 532 milhões nos últimos doze meses. A Agroindústria (34% da receita) cresceu 157% nesse período, para R$ 557 milhões. E a divisão de Reposição e Serviços – em outras palavras, manutenção – saltou 276%, para R$ 274 milhões.

Na companhia, o tom é o de que há espaço de sobra para crescer, mesmo em divisões menores. Um exemplo é a área de Portos e Terminais, divisão que responde por 7% do faturamento da Kepler — e que também teve um crescimento de três dígitos nos últimos quatro anos.

De acordo com Nogueira, é possível elevar esse percentual a 10% nos próximos três anos (ainda que isso não seja um guidance oficial). “O bolo todo está crescendo”, afirmou.

Bernardo , CEO da Kepler Weber
Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber: mudanças climáticas aumentam a necessidade de armazenagem | Crédito: Divulgação

Numa tentativa de mostrar de perto essa oportunidade, a companhia reuniu jornalistas e investidores para uma visita ao Porto de Santos na última semana. No maior porto da América Latina, dos 53 terminais instalados, 15 são graneleiros — e, nesse subgrupo, a Kepler está presente em 88% deles, com mais de 46 projetos instalados. 

No Terminal 39, principal alvo da visita, os equipamentos da empresa foram uma peça-chave da expansão do terminal. Com o apoio da Kepler Weber, aumentou em 80% a quantidade de grãos transportados de 2019 a 2024, passando a 6 milhões de toneladas por ano. Além disso, aumentou a capacidade de armazenagem.

Em 2020, o terminal começou as obras de ampliação da capacidade de 135 mil toneladas de armazenagem para 196 mil toneladas, com a construção de dois silos — que ficaram prontos no ano passado e permitiram ao terminal passar a transportar grãos. 

O terminal, que hoje pertence à Caramuru (50%), Bunge e à cooperativa japonesa Zen-Noh, também trabalha para a construção de um armazém de 170 mil toneladas. A expectativa é de que, até 2030, a capacidade total de armazenamento do terminal alcance 366 mil toneladas. Os armazéns devem guardar principalmente a produção de farelo de soja (hoje, 90% da produção sai pelo porto de Santos) e os silos guardam os grãos.

Ainda como parte da expansão, um novo berço deve ser construído por lá, aumentando a capacidade de exportação de 7,5 milhões de toneladas por ano para 14 milhões de toneladas por ano também até 2030.

Por dentro do porto

Ver de perto a capacidade de armazenagem impressiona. Primeiro, porque os silos recém-inaugurados têm cerca de 40 metros de altura — subir todas as escadas é um desafio, exigindo um tanto de preparo físico e, principalmente, o preparo mental de superar a vertigem dos degraus vazados. A recompensa é uma vista e tanto do restante do porto. 

Silo da Kepler Weber recém inaugurado no Terminal 39 | Karina Souza
Silo da Kepler Weber recém-inaugurado no Terminal 39 com capacidade de armazenamento de até 30 mil toneladas | Crédito: Karina Souza

Segundo, porque transportar os produtos até o silo e dali para os navios exige uma engenharia para lá de complexa. No caso do farelo de soja, por exemplo, transportadores de correia (esteiras apoiadas em enormes estruturas) levam os produtos dos vagões até elevadores, que por sua vez levam os produtos até os armazéns.

Embaixo do armazém existem túneis, que levam os produtos até vazadores. Dali, estruturas de correias novamente levam os produtos até os navios. Não à toa, um dos maiores custos de almoxarifado no Terminal 39 está nas correias. 

A Kepler monta todo o mapa de implantação desse sistema e está presente nos projetos desde a concepção das licitações. Quando as empresas ganham a concessão, a companhia instala as estruturas — um serviço para o qual recebe um fee único. Depois disso, recebe um fee de operação daquela estrutura, contínuo (é esse dinheiro que compõe a área de reposição e serviços).

Um dos principais diferenciais da empresa nesse tipo de projeto está no transportador Robust, chamado, na linguagem técnica, de transportador enclausurado (aos leigos, basta pensar em uma esteira dentro de uma caixa fechada). Os transportadores desse tipo passaram a ser uma exigência para os portos desde 2015, uma vez que são mais sustentáveis ao não espalharem tanta poeira como os transportadores “tradicionais” — que têm a parte de baixo da esteira totalmente aberta.

“O fator de serviço do nosso equipamento é um diferencial. Ele roda 50 mil horas sem falhas, enquanto na média de mercado esse número é de 20 mil horas. Além disso, existe toda a parte de engenharia e fabril, com cortes a laser, solda por robô, pontos que ajudam a garantir que o equipamento seja mais bem construído”, disse Rodrigo Anselmo, gerente comercial da área de portos, terminais e indústrias da Kepler Weber. Hoje, além do Porto de Santos, o equipamento está presente em projetos no Arco Norte.

Futuro

Os transportadores fechados exemplificam uma tendência cada vez mais presente na demanda de fazendas, portos e indústrias pelos produtores da Kepler Weber: aumento de eficiência e otimização de mão de obra. 

“Se há 15 anos você tinha um secador de 50 toneladas por hora, hoje a demanda é por 200 toneladas e 300 toneladas por hora. Numa correia, a demanda antes era por 500 toneladas por hora e hoje, aqui no porto, por exemplo, é de 2.000 toneladas por hora”, exemplifica Nogueira.

As perspectivas vêm a partir de um estreito relacionamento com os clientes. Só em 2024, entre feiras e reuniões, a Kepler Weber já recebeu mais de 800 deles para avaliar possíveis projetos, numa média de conversas de 300 clientes por ano. 

Nessa mudança de demanda, em outras palavras, empresas estão migrando cada vez mais de opex para capex. “Hoje, um cliente vai preferir investir R$ 12 milhões em um equipamento, em vez de R$ 10 milhões, para operar com seis funcionários em vez de dez”, diz o CEO.