Pet food

Por que a dona do M&Ms investe na sustentabilidade da pecuária

Com o projeto, multinacional quer reduzir emissões de carbono nas fazendas e integrá-las à sua cadeia de suprimentos para produção de alimentação para pets

Royal Canin Mars

Falar em Mars significa, quase sempre, lembrar de M&M’s ou de Snickers. Mas nem só de chocolate é feita a multinacional. Com uma divisão de nutrição animal que reúne marcas como Pedigree, Whiskas e Royal Canin e responde por quase 60% do faturamento da gigante americana, a Mars está aportando 600 mil euros (R$ 3,6 milhões) em uma iniciativa de apoio a criadores de bezerros no Brasil.

O projeto foi estruturado pela IDH, uma fundação global sediada na Holanda dedicada à transformação dos mercados de commodities agrícolas. Além de cuidar de metodologias, a fundação também entra com recursos financeiros, investindo outros 80 mil euros na iniciativa. O montante combinado será usado para atender a 120 pecuaristas até o final de 2026, expandindo uma iniciativa conduzida pela fundação desde 2018.

A parceria se soma a outras ações de empresas ligadas à pecuária, especialmente frigoríficos, para profissionalizar o primeiro elo da cadeia. No caso da Mars, trata-se da primeira iniciativa de sustentabilidade voltada à pecuária. O principal intuito da multinacional é reduzir as emissões de carbono nas fazendas e integrá-las à sua cadeia de suprimentos.

“No processo de produção de ração animal, são utilizados subprodutos da indústria da carne, como farinha de carne e de ossos, vísceras e gorduras. Isso conecta a cadeia pecuária à produção de alimentação para pets”, explica Carolina Dalben, gerente de clima e sustentabilidade da Mars. 

A Mars e a IDH vão acompanhar os animais nascidos e criados dentro do protocolo até chegarem a fazendas maiores, com o objetivo de promover uma integração mais eficiente entre os elos da cadeia. Os pecuaristas serão acompanhados por um ciclo de três anos. 

“Com a rastreabilidade do gado, podemos acompanhar todas as etapas do processo até o abate. Assim, as partes dos animais que voltarão para a nossa cadeia estará alinhada aos nossos critérios de originação”, explica Dalben. 

O objetivo é atender a 5 mil hectares de pastagem, promovendo a conservação de 25 mil hectares de vegetação nativa e redução e remoção de até 25 mil toneladas de carbono até 2026.

Em busca de produtividade

Lançada em 2018, a iniciativa tinha como meta atender a 560 produtores em três regiões de Mato Grosso, número que deve chegar a 645 até 2026.

“O programa foi pensado para apoiar o pequeno produtor, que está numa ponta mais frágil da cadeia. Nosso intuito é levar assistência técnica para aumento de produtividade. Isso inclui melhoria de pastagem, melhor gestão de rebanho, além de orientações para regularem eventuais passivos ambientais”, diz Manuela Maluf Santos, diretora interina da IDH Brasil.

Os recursos levantados não vão diretamente para os produtores, mas são usados para a contratação de serviços que os selecionados vão utilizar durante o programa.

No passo a passo, há uma etapa de engajamento, com técnicos de campo indo atrás dos produtores e cooperativas para aderirem ao programa, seguida por uma visita de diagnóstico e sugestões de intervenções necessárias. Há, também, um esforço paralelo para conectar produtores com linhas de crédito e, também, para fazer um balanço de carbono. Hoje, entre os parceiros estão a Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), Creditares e WayCarbon.

Mais parceiros

Ao longo do tempo, conforme se tornou mais popular — e as empresas, mais pressionadas a aumentar a rastreabilidade — o projeto foi se expandindo. Hoje, a IDH conta com parceiros como a Marfrig, que investiu 1,7 milhão de euros, e o Carrefour, que investiu outros 2 milhões de euros, de olho nos atributos de sustentabilidade atrelados ao projeto. 

Embora tenha parceria com a Marfrig, a iniciativa também colabora com grandes frigoríficos como JBS e Minerva, além de conduzir conversas com diferentes setores, como a indústria do couro, precisa alinhar os produtos exportados aos padrões de sustentabilidade exigidos internacionalmente.

“Entendemos que os estados que mais têm relevância na produção de bezerros são o Mato Grosso e o Pará. Mas há um desdobramento importante, que é a criação de protocolos para produção sustentável de bezerros, gerido pela CNA. Nossa próxima etapa é dar escala e visibilidade para esse protocolo”, diz Maluf Santos.

A ideia é estender o protocolo do projeto para um programa nacional, capaz de fazer com que pecuaristas consigam cadastrar suas informações em um sistema, angariando o benefício da rastreabilidade dos animais sem precisar arcar com os custos elevados de uma assistência técnica — mas apenas da brincagem dos animais. 

“É um começo, que permite acompanhar e registrar todos os processos de entrada e saída de animais em diferentes propriedades. Dessa forma, quando chegar no frigorífico, será possível saber todas as propriedades por onde o animal passou e se as características atendem às exigências”, diz Maluf Santos.

Sob um aspecto mais amplo, a rastreabilidade dos animais pode contribuir para a agenda do plano nacional de conversão de pastagens degradadas e com o plano ABC.