Safra 2024/25

O milho já subiu 20%. Até onde vai essa alta? Para analistas, fôlego pode ser curto

Depois da queda de 12% na colheita de milho na safra 2023/24, os estoques iniciais da safra atual são os menores em pelo menos sete anos

Foto: Wenderson Araujo/Trilux/Sistema CNA/Senar

Os preços do milho no Brasil estão em alta devido à forte demanda doméstica e um balanço entre oferta e demanda mais apertado. A safra de verão deve ter uma redução significativa na América do Sul, enquanto muitas incertezas pairam sobre a safrinha, especialmente em Mato Grosso, maior produtor.

Desde julho, quando atingiram o valor mais baixo do ano, o milho subiu mais de 20%, segundo o indicador da Esalq e da B3. Além da lentidão na comercialização por parte dos produtores, um reflexo ainda dos atrasos na venda da soja, os preços no Brasil refletem uma redução de área no Brasil, projetada em 12% pela Veeries. “As vendas de insumos mostram uma queda nessa magnitude”, diz Fábio Meneghin, sócio da Veeries.

Depois da queda de 12% na colheita da safra 2023/24, os estoques iniciais da safra atual são os menores em pelo menos sete anos, segundo dados da Conab. “Como a produção foi menor, há uma percepção de baixa oferta no mercado”, disse Daniele Siqueira, analista da AgRural, acrescentando que alguns produtores têm segurado seus grãos, esperando preços mais altos.

Para completar o cenário de um mercado mais justo este ano, a safra na Argentina, que tem sido uma alternativa de fornecimento para as granjas do Sul do País, também deve cair. Os produtores argentinos devem reduzir a área de milho em 17%, para 6,3 milhões de hectares, a menor desde 2017/18, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.

“No melhor cenário, a Argentina colherá 45 milhões de toneladas, abaixo das 47 milhões de toneladas da última safra”, disse Meneghin. “A oferta de milho será menor na primeira metade do próximo ano na América do Sul”.

Além da rentabilidade mais atraente da soja, riscos maiores para a safra de milho este ano levaram os argentinos a migrarem para a oleaginosa, segundo a Bolsa de Cereais. Depois da alta incidência da cigarrinha do milho na safra passada, os custos para combater a praga aumentaram, assim como o manejo. Além disso, a fraca La Niña atrasou as chuvas da primavera, aumentando o risco climático para a cultura devido a mudanças na janela de plantio.

A safrinha

O atraso na chegada das chuvas no Centro-Oeste também embutiu um prêmio climático aos preços do milho no Brasil. O ritmo de plantio da soja tem sido lento em todo o país devido às condições secas, o que pode levar a um atraso no plantio do milho safrinha, que representa quase 80% da produção nacional.

Embora a especulação sobre uma janela apertada para o plantio da safrinha tenha aumentado com a demora das chuvas de primavera, o impacto na produção é considerado baixo, pelo menos por enquanto.

“Não enxergamos problemas na implantação da safrinha hoje. Mas devemos ter mais milho dentro de uma janela média, e um pouco mais arriscada, do que em uma janela ótima”, disse Meneghin. O cenário é positivo para importantes estados produtores, como Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Já em Mato Grosso, é possível que haja uma queda na produtividade devido ao plantio mais atrasado.

Por outro lado, a área da safrinha pode acabar sendo maior do que o esperado inicialmente devido a uma melhora na relação de troca nas últimas semanas, possibilitada por essa reação nos preços. “Vimos uma aceleração nas vendas de insumos para a safrinha nas últimas duas semanas”, disse Meneghin.

Fôlego curto?

A expectativa é de que os preços do grão permaneçam firmes até a colheita da safrinha, mas isso não chega a preocupar os grandes consumidores.

“Não estamos preocupados com o cenário de oferta. Essa alta de preços traz interesse para o produtor voltar a investir”, afirmou Leonardo Alencar, analista de ações da XP Investimentos, responsável pela cobertura de empresas de proteínas e de agricultura, como a SLC Agrícola.

Ele lembra que os principais produtores de carne de frango e suína, como a BRF e a JBS, têm melhorado o gerenciamento de seus estoques de grãos, além de usar ferramentas no mercado futuro para se proteger contra a volatilidade de curto prazo. Como a demanda por carne permanece forte, principalmente a de frango, as empresas devem ter espaço para repassar o aumento de custos se necessário, acrescentou.

Os produtores de etanol de milho, por sua vez, compraram uma grande quantidade de milho meses atrás, aproveitando os preços mais baixos dos grãos. Segundo Meneghin, as usinas de etanol de milho do Mato Grosso têm estoque suficiente para manter a produção até janeiro ou fevereiro.

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