Investidores estão arrepiados com o segmento de revendas agrícolas desde a recuperação judicial da Agrogalaxy — e, ao menos por enquanto, as dúvidas sobre o comportamento desse segmento ao longo da próxima safra permanecem nos diferentes elos da cadeia de produção. Na Syngenta, o conhecimento das revendas que são parceiras por longos anos parece trazer mais tranquilidade.
Mesmo depois de apresentar uma queda de 17% na receita com defensivos na América Latina no primeiro semestre e do fechamento de lojas de marca própria no Sul do País, a multinacional evita a palavra crise, defendendo que segue mais preservada devido à estratégia de trabalhar com poucos (e bons) distribuidores.
“Trabalhamos com poucos distribuidores, cerca de 150, enquanto a média da concorrência é de 600, de acordo com pesquisas de mercado”, diz André Savino, presidente do negócio de proteção de cultivos da Syngenta, a jornalistas durante o Agro Vision, evento promovido pelo Itaú BBA na tarde de quinta-feira (17).
A estratégia já era adotada pela multinacional antes da crise atual e consiste, basicamente, em trabalhar com essa quantidade de parceiros ‘semi-exclusivos’, ou seja, distribuidores que não pertencem à Syngenta mas são revendas com a bandeira da marca.
A decisão não evitou que a Syngenta sofresse os impactos dos elevados estoques ou dos atrasos nas compras dos insumos para a safra 2024/25. Mas pelo menos poupou a multinacional de estar entre os credores da Agrogalaxy.
“O mercado está com margens apertadas, mas o fundamento continua sólido. A agricultura brasileira está bombando, com projeção de nova safra recorde. Estamos confiantes. Mas, quem não olhar para a área financeira corre o risco de se machucar nesse momento de stress”, resume Savino.
Os preços podem reagir
O otimismo do executivo continua ao comentar sobre os preços de insumos. Para Savino, o movimento de queda mais acentuada ficou para trás. “Vejo uma tendência de recuperação de preços motivada pelo aumento do petróleo e da taxa de juros. Hoje, o mercado está em equilíbrio, o choque já ficou para trás”, disse.
O “choque” ao qual Savino se refere foi a enxurrada de insumos no mercado ao longo da última safra, o que levou o preço de algumas moléculas a um patamar próximo ao custo de produção, apertando as margens das indústrias.
Quanto ao plantio da próxima safra, o executivo também não está preocupado com a possibilidade de uma redução na área da safrinha de milho, citando conversas recentes com produtores que já estão com metade da área de soja plantada — reflexo de investimentos em tecnologia no campo.
“Talvez alguns cultivos, como o de algodão, fiquem com a janela (de plantio) mais apertada. O produtor de algodão pode inclusive plantar como primeira safra, mas não se trata de uma representatividade tão grande no País como a safrinha de milho. No mais, o produtor de algodão é muito tecnificado, consegue se adaptar rápido”, resume.