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Depois da BRF, chegou a hora da carne na Marfrig: Goldman Sachs recomenda compra

Alta das ações da Marfrig em 2024 deve-se exclusivamente ao desempenho da BRF, mas negócio de carne bovina não deveria ser tão penalizado, diz Goldman Sachs

Goldman recomenda compra de Marfrig

As ações da Marfrig subiram cerca de 40% este ano — graças exclusivamente ao desempenho da BRF, sua controlada, que viu o seu papel disparar mais de 70% no mesmo período. Mas, para o Goldman Sachs, isso deve mudar nos próximos 18 meses.

No relatório inaugural de cobertura da empresa, o banco recomenda compra do papel, com um potencial de alta de 32% em relação ao fechamento de quinta-feira. Nesta sexta, as ações da Marfrig reagiram à recomendação e fecharam em alta de 6%.

A conclusão da venda de ativos para a Minerva abre caminho para a desalavancagem da empresa, que deve cair para 2,5 vezes após o recebimento dos recursos pela venda de ativos ao Minerva, nos cálculos do Goldman. Ao final de setembro, o índice estava em 3,4 vezes.

Em entrevista ao The AgriBiz no mês passado, o vice-presidente de finanças da Marfrig, Tang David, disse que, após a conclusão do pagamento pela Minerva, a alavancagem cairia para cerca de 3 vezes.

Os analistas Thiago Bortoluci e Nicolas Sussmann, do Goldman Sachs, também destacam no relatório o crescimento da participação de industrializados na receita da Marfrig na América do Sul, uma outra consequência da venda de frigoríficos para a Minerva e de investimentos recentes da empresa. Por fim, os custos mais baixos com gado no Brasil devem continuar beneficiando os resultados.

Cash Cow

O Goldman também está mais otimista em relação aos negócios nos Estados Unidos. Mesmo em meio ao cenário desafiador para a carne bovina, a National Beef, controlada da Marfrig naquele país, deve apresentar Ebitda positivo e fluxo de caixa livre, além de continuar distribuindo dividendos nos próximos dois anos.

“A National Beef é uma cash cow apesar do ciclo do gado”, resumem os analistas.

O banco também afirma que há sinais de que os pecuaristas norte-americanos começaram a recompor os seus rebanhos após um período marcado pela liquidação de matrizes — o que resulta em preços de gado 26% maiores do que a média dos últimos 34 anos, em termos reais.

Uma análise realizada pelo Goldman Sachs sobre a pecuária nos EUA mostra que os últimos ciclos de retenção foram influenciados não apenas pela oferta de fêmeas no mercado, mas também pelos custos mais baixos dos grãos, clima favorável e taxas de juros atrativas.

“Dados recentes da indústria sugerem que esse movimento tem sido mais proeminente desde julho de 2024 (apesar de ainda ser bastante volátil, como observado no final de setembro), o que implica que, mantendo-se todas as outras condições, a oferta de gado poderia potencialmente se tornar positiva até meados de 2027”, diz o relatório.

Um estudo de sazonalidade dos preços indica que os custos com gado devem cair em média 3,4% nos próximos 12 meses em comparação com os níveis atuais nos EUA.

Desconto injustificado

Os analistas do Goldman estimam que, excluindo a BRF, a Marfrig atualmente é negociada em 4,3 vezes o Ebitda projetado para os próximos 12 meses, o que implica em um desconto de 16% em relação ao valor médio desde abril de 2021 — um nível ainda mais baixo em comparação com outros players focados exclusivamente em commodities, apesar de ter 78% de exposição a produtos de valor agregado e de marca.

“Em nossa opinião, a magnitude desse desconto é injustificada, pois penaliza excessivamente tanto as unidades de negócios da América do Norte como da América do Sul”, concluem os analistas.