No momento em que se fala de piso da compressão de taxas do mercado de crédito privado, a Marfrig anunciou uma emissão de R$ 2 bilhões em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). Os títulos serão divididos em quatro séries, com prazos de sete a 15 anos. O bookbuilding está marcado para 4 de novembro.
A primeira série terá prazo de sete anos e remuneração de CDI+0,45% ao ano. A segunda série, com mesmo prazo, terá taxa pré-fixada de 12,75% ao ano, ou DI 2030 +0,45% ao ano. Com vencimento em dez anos, a terceira série terá remuneração de 6,9% ao ano ou NTN-B +0,55% ao ano (o que for maior). A quarta, com vencimento em 2039, terá taxa limitada a 7,1% ao ano ou NTN-B 2040.
A oferta poderá ser aumentada em até 25%, ou R$ 500 milhões, dependendo do tamanho da demanda. O sindicato é formado por XP Investimentos, Safra, BTG Pactual, BB, Bradesco BBI e Santander.
A emissão da companhia suporta o diagnóstico do mercado ao longo do último mês: o de que o alto apetite por crédito privado abre espaço para companhias — especialmente as high grade — acessarem o mercado com taxas mais baixas.
Na visão de quem atua nesse mercado, um ponto de ruptura está próximo. “Os prêmios de risco, hoje, em múltiplos papéis, não pagam a inadimplência projetada ajustada ao risco. A demanda de mercado está sobrevivendo do benefício fiscal aos investidores finais, sejam eles pessoas físicas ou fundos isentos. Para piorar, os papéis estão cada vez mais frágeis em termos de proteção”, resume um gestor, numa opinião ecoada por pares.
Os prêmios da nova emissão da Marfrig são, de fato, menores do que os pagos pela companhia na operação de CRAs feita anteriormente pela empresa, em março. Na primeira série, de cinco anos, a Marfrig pagou CDI +0,95%. Na segunda (com vencimento em sete anos) e na terceira (dez anos), as taxas foram pré-fixadas: 11,7% e 6,8% ao ano, respectivamente.
As condições de mercado, portanto, estão possibilitando à companhia de Marcos Molina melhorar o perfil de seu endividamento, alongando os vencimentos e reduzindo os custos financeiros. A empresa tem feito um liability management com o objetivo final de reduzir a alavancagem, como afirmou o vice-presidente de finanças da Marfrig, Tang David, em entrevista ao The AgriBiz no mês passado.
No trimestre encerrado em junho, a dívida líquida da Marfrig era equivalente a 3,38 vezes o Ebitda em reais, levemente abaixo de 3,43 vezes no primeiro trimestre deste ano.