André Dias, um dos executivos mais respeitados da indústria de agroquímicos, está de saída da Nutrien. Depois de chefiar as operações latino-americanas da gigante de fertilizantes por quatro anos, período marcado por uma intensa agenda de M&As que alçou o grupo canadense à terceira posição entre as maiores revendas agrícolas do país, o executivo deixa o negócio no dia 28.
Ex-chefe das operações de Monsanto e Nidera Seeds, Dias deixa a Nutrien depois de estar à frente uma das maiores expansões do varejo agrícola brasileiro. No ano passado, o grupo gastou cerca de US$ 500 milhões em aquisições no Brasil — a maior delas foi a Casa do Adubo.
A saída de Dias ocorre num momento de turbulências no varejo agrícola, com o mercado abarrotado de estoques formados a preços muito altos. Executivos de grandes players como Agrogalaxy e Lavoro já falaram publicamente dos desafios, que podem implicar em devolução de estoques e renegociação de contratos com as indústrias de insumos agrícolas.
Desafio para Carlos Brito
Num memorando interno assinado por Jeff Tarsin, vice-presidente dos negócios de varejo da Nutrien — a quem Dias se reportava —, a empresa disse que o executivo brasileiro “sentiu que era o momento certo para se afastar, enquanto a equipe se concentra em entregar os planos bem traçados para otimizar o negócio”.
As razões da saída de Dias ainda não estão todas claras, mas quem conhece o varejo agrícola não tem dúvidas de que o excesso de estoques é um pepino e tanto para qualquer executivo resolver.
No lugar de Dias, assume Carlos Brito, até então responsável pela área comercial da América Latina. No comunicado à imprensa, a Nutrien disse que o executivo assume como presidente interino, o que deixa alguma margem de dúvida sobre sua efetivação na função.
Brito é um executivo experiente na indústria. Antes da Nutrien, onde está desde o início de 2020, trabalhou por 16 anos na Monsanto (onde conheceu Dias). Também foi vice-presidente da divisão agrícola da Bayer na América Latina, cuidando das áreas de recursos humanos e da integração com a Monsanto, um dos processos mais complexos pelo porte do negócio adquirido e pelos problemas que o M&A causou à farmacêutica alemã.
Expansão da Nutrien no Brasil
Na América Latina, o Brasil é de longe o principal mercado de atuação da Nutrien, como não poderia deixar de ser pelo porte da agricultura nacional. No ano passado, o grupo canadense faturou o equivalente a US$ 1,1 bilhão no país. Quando se agregam os dados anuais da Casa do Adubo, rede de revendas adquirida em meados do ano passado, a receita chega a quase US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,5 bilhões no câmbio de hoje).
De certa forma, a troca de comando da Nutrien na América Latina completa um ciclo iniciado em 2019, quando o então CEO global, Chuck Magro, veio ao Brasil e prometeu investir US$ 1 bilhão no país para se consolidar como uma das maiores revendas também por aqui, replicando a estratégia que já tinha nos EUA (onde detém 30% do varejo agrícola).
De lá para cá, a Nutrien já mudou o comando global duas vezes. Magro deixou a companhia em 2021, em meio a divergências com o board nas negociações com a mineradora australiana BHP para uma sociedade em uma mina gigante de potássio no Canadá. Em seu lugar, assumiu Mayo Schmidt, um CEO de estilo durão que criou muito atrito internamente. Desde o ano passado, a Nutrien é comandada por Ken Seitz.
Com quase US$ 40 bilhões em vendas no ano passado, a Nutrien está avaliada em US$ 36,4 bilhões na bolsa de Nova York. A companhia faz a maior parte receita no varejo agrícola (US$ 21,3 bilhões), mas são os negócios de potássio e nitrogênio que geram a maior parte do lucro — R$ 9,7 bilhões de um Ebitda total de US$ 12,1 bilhões em 2022.