Uma década depois de perder a renhida disputa pela Hillshire Brands para a rival americana Tyson Foods, a JBS está diante de uma oportunidade para adquirir uma das mais populares marcas de salsichas do Estados Unidos.
À venda, a Oscar Mayer — marca de salsichas, bacon e embutidos que pertence à Kraft Heinz — é um ativo que faz sentido para a estratégia de longo prazo da JBS, especialmente no mercado americano.
Ontem, a agência Reuters antecipou que a JBS e a mexicana Sigma estão na disputa para comprar a Oscar Mayer. A Kraft Heinz está tentando vender o ativo desde maio, quando contratou Bank of America e Centerview Partners.
The AgriBiz confirmou que o ativo interessa ao grupo brasileiro, mas os múltiplos pedidos ainda parecem esticados para o playbook de M&As que a JBS costuma executar.
“São números de vendedor”, disse uma fonte. Não será uma surpresa, portanto, se um negócio for mesmo adiante com um preço menor do que os US$ 3 bilhões que a Reuters mencionou — e que significariam um EV/Ebitda de 10 vezes.
Para se ter uma referência, as ações da JBS negociam a um múltiplo na casa de 5 vezes, enquanto os papéis da Tyson Foods estão próximos de 9 vezes o Ebitda, um múltiplo que se beneficia das marcas Jimmy Dean e Ball Park (líder em salsichas) — ambas legadas da Hillshire, comprada por US$ 8,5 bilhões em 2014.
Uma Seara nos EUA
Para a companhia dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a aquisição da Oscar Mayer ajudaria na construção de um negócio de marca e valor agregado nos Estados Unidos com a mesma relevância que a Seara possui no Brasil, um objetivo perseguido desde 2014.
“Construir uma plataforma como a Seara no mercado americano é uma das grandes oportunidades que a companhia tem”, chegou a dizer Wesley Batista, então CEO da JBS, em uma teleconferência com analistas em março de 2017.
Por muito tempo, especialmente na era dos juros baixíssimos nos Estados Unidos, os M&As em alimentos estavam muito caros, o que fez a JBS adotar uma estratégia pouco comum em sua história: construir fábricas em território americano.
No ano passado ,a JBS inaugurou uma fábrica de especialidades italianas (presunto, salame, entre outros) no Missouri, um investimento de US$ 200 milhões realizado por meio da divisão Swift Prepared Foods.
Agora, os M&As podem fazer mais sentido. A compra da Oscar Mayer, aliás, caberia no balanço da JBS sem grandes problemas, especialmente porque a companhia brasileira vem gerando muito caixa graças aos negócios de carne de frango (Pilgrim’s Pride e Seara).
Com o índice de alavancagem recuando rapidamente (há quem projete que a relação entre dívida líquida e Ebitda poderia ficar em 2 vezes ou até menos no fim de 2025), há espaço para levar a Oscar Mayer.
Nos cálculos dos analistas do Morgan Stanley, uma aquisição de US$ 3 milhões significaria uma alavancagem adicional de 0,5 vez, o que levaria o indicador da JBS para algo entre 2,5 vezes e 3 vezes.
É um número ainda muito menor do que as 4,4 vezes do ano passado, que não criaria qualquer risco para a preservação do grau de investimento da JBS, um objetivo do qual a gigante brasileira não abre mão.
No longo prazo, os negócios de margens maiores como a Oscar Mayer ajudarão a JBS a reduzir o peso dos produtos mais voláteis e comoditizados no portfólio, o que faz sentido para as aspirações da companhia.
Na bolsa americana, as companhias de bens de consumo negociam com múltiplos de 12,5 vezes, de acordo com o Morgan Stanley.
Atualmente, os produtos de marca e valor agregado representam 15% das vendas da JBS, segundo as estimativas dos analistas Ricardo Alves, Lucas Mussi e Henrique Morello.
Ampliar essa participação pode ajudar no processo de re-rating da JBS, especialmente se o processo de listagem das ações em Nova York for bem-sucedido.
Procurada, a JBS não comentou.
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Na competição com a JBS, a mexicana Sigma parece estar em desvantagem. Neste momento, a Alfa — controladora da Sigma que está listada na bolsa mexicana — passa por um processo de simplificação da estrutura corporativa, enxugando custos.
A compra da Oscar Mayer também teria uma impacto maior para a alavancagem da Sigma, que ficaria em 4,2 vezes em 2025, calculou o Morgan Stanley.