De novo?

Ações da ADM despencam com novos problemas na contabilidade

Em um desdobramento da investigação sobre suposta fraude contábil anunciada em janeiro, ADM cancela call de resultados e anuncia que vai corrigir balanços

Escritório da ADM

As ações da ADM despencam nesta terça-feira na Bolsa de Nova York, com investidores reagindo a um desdobramento de supostas fraudes contábeis que balançaram a trading no início do ano. Pela manhã, os papéis chegaram a cair 10%.

A empresa anunciou que vai corrigir os balanços do ano passado e dos dois primeiros trimestres deste ano depois de descobrir novos problemas na forma como as vendas entre segmentos foram reportadas. A decisão levou a ADM a adiar, na noite de ontem, a conference call de resultados trimestrais agendada para hoje de manhã.

Os novos erros nas práticas contábeis envolvem os segmentos da divisão agrícola, de carboidratos e de nutrição, este último no centro das investigações anunciadas em janeiro. Apesar de informar que não espera um impacto material das revisões nos números — o mesmo desfecho da investigação do início do ano —, a ADM voltou a ter a sua reputação colocada em xeque.

Só neste ano, empresa perdeu mais de US$ 14 bilhões em valor de mercado, afetada pela investigação sobre supostas fraudes nas transações entre segmentos. O episódio resultou no afastamento do então CFO, Vikram Luthar, e numa investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

“A integridade dos nossos controles internos e relatórios financeiros é muito importante”, disse o CEO da companhia, o argentino Juan Luciano, no relatório preliminar de resultados divulgado ontem à noite. “Buscamos precisão e transparência em todos os aspectos. Embora tenhamos avançado, estamos comprometidos em continuar fortalecendo nossos controles financeiros internos”, acrescentou.

Resultado abaixo do esperado

No balanço ainda não auditado, divulgado ontem à noite, a empresa informou uma queda de 33% no lucro líquido, para US$ 1,09 por ação. Na divisão agrícola, o lucro operacional caiu 43%, para US$ 480 milhões, refletindo uma piora nos resultados de originação na América do Sul. Além do ritmo de venda mais lento dos agricultores, houve um aumento nos custos logísticos relacionados a contratos de take or pay, espremendo as margens.

O lucro da divisão de nutrição também ficou abaixo do esperado, com uma retração de 19% na comparação anual, para US$ 109 milhões. Os resultados ainda foram impactados por uma baixa contábil de US$ 461 milhões relacionada à queda das ações da Wilmar na Bolsa de Cingapura, consideradas como permanente.

As perspectivas para o ano de 2024 também foram revisadas para baixo. A ADM agora estima um lucro entre US$ 4,50 e US$ 5 por ação — o guidance anterior apontava para uma banda entre US$ 5,25 e US$ 6,25.

Por volta das 13h30, as ações da ADM caíam 8%, depois de desabar 9% mais cedo no pregão desta terça-feira. Neste ano, os papéis caem 26%. A empresa está avaliada em US$ 24,4 bilhões na Bolsa de Nova York.