“É com os carecas que eles rendem mais”. A frase, em tom de galhofa, estava estampada no estande da Sparta durante a última Expert, megaevento com investidores organizado pela XP.
A brincadeira poderia parecer presunçosa, mas quem investe em Fiagro pode dar alguma razão aos espartanos. Com um retorno de 15,2% ao ano, o CRAA11 — Fiagro da gestora fundada por Victor Nehmi — é pequeno oásis numa indústria envolta em uma desconfiança generalizada.
Ontem à noite, a Sparta anunciou uma oferta de R$ 200 milhões para ampliar o tamanho de seu Fiagro. O follow-on só será possível porque o CRAA11 negocia acima do valor patrimonial, um feito que apenas três fundos listados conseguem neste momento.
A oferta é a segunda do Fiagro da Sparta em menos de seis meses. Em junho, a gestora já havia contrariado a maré com uma oferta que teve tanta demanda que preencheu até o lote adicional. A meta era levantar R$ 150 milhões, mas a gestora conseguiu R$ 187 milhões.
Caso a Sparta consiga repetir o feito do meio do ano e captar também o lote adicional, o CRAA11 chegaria a um patrimônio líquido de mais de R$ 490 milhões, ganhando porte para ficar entre os dez maiores da indústria. Na nova oferta, o lote mínimo para a Sparta ir adiante é de R$ 30 milhões.
Assim como no follow-on anterior, a Sparta vai bancar parte dos custos de distribuição. Considerando a oferta base de R$ 200 milhões, o custo da oferta (incluindo distribuição, marketing, compliance etc.) sairá por R$ 3,65 por cota. Desse total, a gestora vai arcar com R$ 1,35, o equivalente a 37% dos custos. Caso a oferta fique maior do que isso, a proporção será mantida, aponta o prospecto.
Os diferenciais da Sparta
Para atrair os investidores, o Fiagro da Sparta se vale de uma tese que concilia um portfólio de ativos mais conservador — high grade, no jargão do mercado — com a habilidade em turbinar os retornos com negociações no mercado secundário.
No prospecto, a gestora aponta a partir de seus estudos de viabilidade um ganho líquido para os investidores de CDI+ 1,3% ao ano. A taxa pode ser considerada magra à primeira vista, mas encontra amparo na tradição da Sparta como uma casa que prefere retornos consistentes de longo prazo a taxas gordas com mais risco de default.
“A filosofia é não arriscar, até porque o máximo que pode acontecer no crédito é o devedor pagar. Mas, se não pagar, você pode perder 70% do valor investido. Não são dois ou três pontos de spread que justificam comprar esse risco”, disse Márcio Takaya, gestor do CRAA11 (que não é careca, vale dizer), em uma entrevista ao The AgriBiz em abril.
Mas mesmo com um spread deliberadamente mais magro, o Fiagro da Sparta consegue melhorar o retorno com as negociações no mercado secundário.
Nos últimos doze meses, o giro da carteira agregou 3,5% ao ano ao retorno do CRAA11, o que foi crucial para trazer o retorno do fundo a CDR + 15,2% ao ano. Apenas com o carrego dos papéis, o retorno ficaria em 13% ao ano. Essa conta contempla o rendimento do CDI e acrescido dos spread dos CRAs.
“O ganho no secundário é o diferencial deles, mas com um fundo maior fica cada vez mais difícil. Não tem tanto CRA no mercado para dar uma porrada de ganho em volume grande”, disse um gestor de crédito.
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A oferta do CRAA11 é coordenada pelo BTG Pactual.