Etanol de milho

Com margens de volta ao normal, FS inicia desalavancagem

Com custo de milho travado e perspectiva de bons preços de etanol, o CEO Rafael Abud vê margens perto da estabilidade e alavancagem caindo mais nos próximos trimestres

O CEO da FS, Rafael Abud | Crédito: Divulgação
Rafael Abud, CEO da FS, diz que alavancagem deve convergir para as metas da empresa até o final do ano fiscal | Crédito: Divulgação

A normalidade voltou ao balanço da FS, uma das maiores produtoras de etanol de milho do País. Depois de um período difícil — marcado por estoques caros de milho, uma piora drástica nos resultados e até rumores sobre a sua saúde financeira —, as margens da companhia estão de volta às médias históricas, segundo o CEO Rafael Abud.

No balanço divulgado ontem à noite, a FS apresentou um Ebitda de R$ 752 milhões no segundo trimestre do ano fiscal 2025, encerrado em setembro. O crescimento foi de 244% em comparação com o mesmo período do ano passado. A margem Ebitda avançou 17 pontos percentuais, para 28%. A FS lucrou R$ R$ 296 milhões, revertendo prejuízo um ano antes.

Uma combinação de fatores proporcionou uma melhora significativa no spread de moagem, que subiu para R$ 1,82 por litro no segundo trimestre em relação a R$ 1,22 por litro no primeiro. Na comparação anual, Abud citou um aumento de 15% no preço do etanol, uma redução no custo do milho em R$ 10 por saca e um maior percentual de cobertura da receita com produtos nutrição animal sobre os custos.

“Esse é o primeiro trimestre cheio com os novos estoques de milho. A tendência é que os spreads de moagem se sustentem em torno deste patamar até o final do ano fiscal”, afirmou o CEO ao The AgriBiz.

A companhia praticamente já finalizou o programa de compra de milho para o atual ano fiscal, tendo garantido matéria-prima para manter as operações até 31 de março, a um custo médio de R$ 42 por saca — valor abaixo dos preços praticados no mercado. Ontem, a saca de milho era negociada a R$ 56,51 no mercado disponível em Mato Grosso, segundo o Imea.

“Tanto faz para onde vai o preço do milho agora”, disse Abud. Em meio a um cenário mais altista para o preço do cereal, a companhia se antecipou nas compras do milho que será colhido a partir de junho de 2025. “Já estamos com uma parte relevante comprada em valores semelhantes”, revelou.

Do lado da receita, as perspectivas para os preços do etanol seguem favoráveis. A dinâmica entre oferta e demanda segue justa e a entressafra da cana-de-açúcar se aproxima, potencialmente reduzindo a oferta do biocombustível. As condições de mercado, portanto, devem manter a paridade entre os preços da gasolina e os do biocombustível perto de 70%, segundo Abud. Hoje, essa relação em 67%.

A desalavancagem começou

Com a sensível melhora do Ebitda, a alavancagem da FS caiu do pico de 7,4 vezes, no primeiro trimestre, para 4,9 vezes no balanço recém-divulgado. A expectativa é de que o indicador continue melhorando nos próximos trimestres, acompanhando a melhora do Ebitda acumulado em 12 meses.

“Até o final do ano fiscal, estaremos dentro da meta de 2 a 3 vezes o Ebitda estipulada pela companhia”, afirmou Abud. O dado já considera a alocação de capital.

Embora a FS tenha paralisado investimentos em nova capacidade para a produção de etanol, o projeto BECCS (sigla em inglês para produção de bioenergia com captura e armazenamento de carbono) continua de pé. A segunda fase prevê aportes de R$ 350 milhões. “Pretendemos injetar carbono no solo em junho de 2026 em Lucas do Rio Verde”, afirmou.

Quanto aos dividendos, Abud disse que a FS não tem planos de retomar os pagamentos até o final deste ano fiscal.

Recompra de dívida

A FS desembolsou R$ 152 milhões para recomprar CRAs no segundo trimestre a um desconto médio de 5,3% em relação ao valor da emissão. A iniciativa foi motivada por boatos sobre um suposto risco de default da empresa, o que provocou um selloff dos papéis no mês passado. No auge da crise, alguns títulos chegaram a ser recomprados com um deságio de 12%.

Para Abud, o episódio acabou resultando numa gestão de passivos com um resultado importante para a companhia. A FS suspendeu as compras dos CRAs à medida que a liquidez no mercado secundário foi diminuindo. “Houve um momento em que o mercado virou de vendedor para comprador junto conosco”, disse.

A companhia também decidiu exercer a opção de compra de um green bond com vencimento em 2025 a 102,5% do valor de face — o principal em aberto é de US$ 101,3 milhões. A operação, prevista para dezembro, ajudará na redução da dívida bruta e a melhorar o perfil do endividamento.

A FS tem uma dívida bruta de R$ 10,3 bilhões, com quase metade (R$ 4,5 bilhões) vencendo a partir de 2031. Ao final do trimestre, a empresa tinha R$ 3,4 bilhões em caixa, enquanto a dívida de curto prazo somava R$ 852 milhões.