Para conceder um waiver à Solubio, os credores da companhia de biológicos on-farm exigem que o Aqua Capital, firma de private equity que controla a empresa com 56% do capital, faça um aporte para reforçar o caixa.
O assunto ganhou força nesta semana, quando detentores dos CRAs suspenderam uma assembleia que discutiria o perdão pelo descumprimento de algumas cláusulas previstas no contrato, concedendo mais prazo à empresa.
Sem a obtenção do waiver, a Solubio estaria, no limite, sujeita ao vencimento antecipado dos títulos — mas essa possibilidade é vista como remota neste momento.
A reunião dos detentores dos CRAs ficou reagendada para a próxima semana, coincidindo com a assembleia extraordinária de acionistas da Solubio que vai discutir a aprovação de uma injeção de caixa. Os dois encontros estão marcados para a próxima terça-feira, 3 de dezembro.
A proposta original da Solubio prevê um empréstimo de R$ 30 milhões, com juros de IPC+2% ao ano, de acordo com o edital de convocação para a assembleia de acionistas, divulgado recentemente. A ideia é levantar esse montante com o Aqua Capital.
“Esclarece-se que a realização da operação, até o limite de R$ 30 milhões, depende, também, de aprovações internas da Agro Innovation, podendo o montante total disponibilizado à companhia ser menor do que o acima indicado”, mostrou a ata de convocação da assembleia de acionistas, citando o veículo por meio do qual o Aqua Capital investe na Solubio.
Fortalecer o caixa da Solubio é fundamental para a companhia ter chances de atravessar a arrebentação. No último ano, o negócio queimou muito caixa, evidenciando os riscos da operação. Em 30 de junho, por exemplo, a companhia possuía apenas R$ 5 milhões, uma fração dos R$ 28 milhões de 31 de dezembro de 2023 e ainda menos que os R$ 93 milhões de um ano antes.
Neste momento, os credores estão confiantes no aporte, apurou The AgriBiz. Até a assinatura do contrato, no entanto, nada está escrito em pedra. Procurada, a Solubio não comentou.
Mais exigências
A negociação em torno do empréstimo que o Aqua Capital fará não é o único pedido dos credores. Eles também pediram que os acionistas da Solubio transformem os mútuos conversíveis em ações da empresa.
De acordo com uma fonte, os empréstimos desse tipo em poder dos acionistas (especialmente o Aqua Capital) somam cerca de R$ 50 milhões. Fazer essa conversão significa tirar esse montante da dívida da empresa, transformando em patrimônio líquido. A mudança traria alívio para os indicadores de endividamento da empresa, mas diluiria alguns minoritários.
Nos últimos doze meses encerrados em junho, por exemplo, a alavancagem da companhia estava em níveis extremamente altos (11 vezes). Pelos termos do CRA da Solubio, a companhia precisa reduzir esse indicador para 3,5 vezes em 2025 e 2,5 vezes no ano seguinte.
A situação atual da Solubio
Depois de um 2023 catastrófico, a Solubio conseguiu melhorar as margens, mas não entregou o crescimento de receita necessário. Nos últimos doze meses encerrados em junho, a receita líquida cresceu apenas 3% na comparação com o ano fechado de 2023, somando R$ 192 milhões.
O ganho de Ebitda, no entanto, foi substancial, passando de pífios R$ 3 milhões para R$ 23 milhões neste ano. A margem cresceu mais de dez vezes, passando de 1,7% para 11,9%. No fim de junho, a Solubio tinha uma dívida líquida de R$ 265 milhões.
Nesse cenário, credores querem acompanhar a companhia de perto. Como parte das negociações, a Solubio terá de prestar informações ainda mais constantes aos detentores dos CRAs. A ideia é que, acompanhando o negócio de perto, com uma alta frequência, eles consigam antecipar novos problemas.
Com mais de R$ 300 milhões em CRAs no mercado, a Solubio faz parte do portfólio de parte relevante dos Fiagros listados, incluindo RURA11 (Itaú Asset), XPCA11 (XP Asset), JPGX11 (JGP), CPTR11 (Capitânia), AAZQ11 (AZ Quest). Em alguns casos, o CRA chega a representar 6% do patrimônio líquido.
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As necessidades de caixa de curto prazo da Solubio poderiam ter sido resolvidas há alguns meses, quando a companhia negociava uma emissão primária de R$ 100 milhões por meio de um CRA. No entanto, essa negociação fracassou após o abalo reputacional provocado pela recuperação judicial da Agrogalaxy, também controlada pelo Aqua Capital. A emissão desse CRA era coordenada pelo UBS-BB. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)