Você pode dizer o que quiser do agronegócio. Só não vá acusá-lo de ser entediante. Na verdade, é difícil encontrar setores mais dinâmicos na economia real.
Há pouco mais de um mês, havia uma gritaria generalizada: dizia-se que o início de primavera mais seco do que o esperado ameaçava o plantio e a produtividade da soja e o calendário para o milho safrinha. Era um evidente exagero.
Como nós aqui na Veeries vínhamos mostrando, caso se confirmassem as previsões de clima regular em outubro, a situação seria rapidamente normalizada — e não haveria prejuízo para as nossas principais safras de grãos.
Foi justamente o que aconteceu: começou a chover no Centro-Oeste. Temos agora uma safra de soja que se desenvolve em ótimas condições, como mostram os modelos de satélite da Veeries. E é muito boa a perspectiva para a safrinha.
Isso contribuiu para dissipar os temores de setembro, abrindo caminho para uma injeção de ânimo no campo.
Obviamente não foi só por causa da chuva. Outros fatores ajudaram a melhorar, num sentido amplo, o clima para os produtores — pelo menos em relação a fevereiro, quando a pressão negativa causada pela colheita de uma boa safra de soja levou os preços nominais abaixo de R$ 100/saca no mercado à vista.
Desde então, a desvalorização do real e o aumento expressivo dos prêmios — devido a fatores sazonais e a um balanço de oferta e demanda doméstica mais equilibrado — conduziram a uma recuperação dos preços, tanto da soja quanto do milho.
Além disso, os custos totais mantiveram-se relativamente controlados (com uma importante contribuição dos fretes, que permaneceram praticamente estáveis ao longo do ano).
Esses fatores mais do que compensaram o recuo da soja e do milho no mercado externo — e hoje o cenário para os produtores está melhor do que no início do ano.
Os desafios continuam
É claro que as dificuldades recentes do agronegócio não desapareceram. Ainda é cedo para dizer que já foi superado o ciclo de margens apertadas iniciado no ano passado. Os Estados Unidos acabaram de colher uma grande safra e estamos indo pelo mesmo caminho aqui na América do Sul, consolidando a projeção de mais uma safra de superávit global (a terceira consecutiva).
A colheita concentrada em fevereiro no Brasil tem tudo para fazer os preços recuarem dos atuais patamares.
O iminente recomeço da guerra comercial entre Estados Unidos e China também enche o horizonte de incertezas. A primeira versão desse conflito teve consequências favoráveis para as exportações brasileiras de produtos agrícolas, mas nada garante que isso se repetirá agora.
São desafios que vão exigir, mais uma vez, enorme capacidade de adaptação por parte dos produtores — mas isso faz parte do jogo e é o que torna o agro um dos setores mais eletrizantes que existem.