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A saída da Zilor para financiar produtores de cana sem gastar um real

Empresa do setor sucroalcooleiro estruturou FIDC de R$ 75 milhões em parceria com o BV; recursos vêm do banco e da Valora

Colheita de cana; Zilor cria FIDC para financiar produtores | Crédito: Schutterstock

A Zilor montou, há poucos dias, um FIDC em parceria com o banco BV para financiar grandes produtores de cana. Embora não seja a primeira vez que a companhia cria um veículo desse tipo, é a primeira vez que o faz sem precisar colocar um real do próprio bolso: os recursos vêm do próprio banco e da Valora, gestora do fundo.

O banco fica na cota sênior, com rendimento de CDI+2,3% e, a gestora, na subordinada. “Não somos gestores de placa, somos gestores ativos. Dentro da nossa forma de atuar, faz todo sentido entrar na cota subordinada como investidores e trazer esse reforço para o fundo”, afirma Guilherme Grahl, gestor de agro da Valora.

Somados, são R$ 75 milhões a serem emprestados para grandes produtores com quem a Zilor mantém uma relação de longo prazo. O intuito é financiar o investimento deles no cultivo da cana de açúcar, em contratos que variam de 12 meses a 18 meses por meio do fundo, que tem prazo de vencimento de quatro anos.

“A cana tem um ciclo longo, em que se começa a colher com um ano e meio e vai até o quarto, quinto corte. O caixa vai para essa fase de plantio, para o capex que o produtor tem com o ativo biológico”, explicou Bruno Antonio Costa, gerente de Tesouraria e RI da Zilor, ao The AgriBiz.

A Zilor conhece de perto esses 16 produtores há mais de duas décadas. Sob um modelo de arrendamento, em que as terras são detidas pela própria companhia, eles entregam hoje 65% de toda a moagem da empresa. No primeiro trimestre da safra 2024/25, a companhia teve uma moagem total de 4 milhões de toneladas — entre seus maiores clientes, está a Coopersucar.

Além de oferecer a eles o produto de financiamento da safra, a Zilor hoje apoia essas empresas em suas próprias estruturas de governança, presta auxílio em processos sucessórios e oferece produtos de hedge de açúcar a eles a partir de uma mesa própria.

Como funciona

Dentro desse relacionamento, os fornecedores têm contratos de longo prazo com a companhia, usados como lastro para a operação. No fluxo da operação, os produtores elegíveis emitem CPRs, que são compradas pelo fundo. Eles usam os recursos para o cultivo da cana e, no momento em que entregam a matéria-prima à Zilor, a companhia paga o fundo, repondo os recursos.

“A companhia precisava de um funding estável e off balance. A partir disso, montamos o fundo com um prazo de quatro anos e com vencimentos das CPRs entre 12 e 18 meses, financiando o ciclo de produção”, afirmou Gustavo Pinori, superintendente de Corporate e Agro do banco BV.

Para ter acesso ao FIDC, é necessário que os produtores estejam de acordo com o que prevê o regulamento do fundo. Nos detalhes, cada tomador pode pegar no máximo 70% de sua receita anual com a Zilor (do ano imediatamente anterior), com aval de seus sócios. O FIDC tem um limite de concentração de 20% do patrimônio líquido por devedor. 

Hoje, a média de recursos tomados por produtor é de R$ 10 milhões, sendo que, com os recursos atuais, nove devem ser beneficiados. O fundo pode aumentar de tamanho ao longo do tempo, de acordo com o apetite desses produtores.

“Se mais produtores quiserem, fica ainda mais interessante. Hoje, o CDI acaba atrapalhando um pouco, mas, em um cenário de juros mais baixos, essas dinâmicas tendem a ganhar mais tração”, disse Grahl.

Prova disso está na própria trajetória da Zilor. Não é a primeira vez que a companhia recorre a esse tipo de estrutura como funding para os fornecedores.

Em 2021, a empresa montou um FIDC com o mesmo intuito junto com o BTG Pactual. Na época, o fundo captou R$ 120 milhões, sendo R$ 80 milhões aportados pelo banco e os demais R$ 40 milhões pela Zilor. O custo aos produtores era de CDI+3% a CDI+4%. Na operação estruturada agora, o custo médio não foi revelado. 

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Nesta sexta-feira, a Zilor divulgou bons resultados referentes ao segundo trimestre. O Ebitda ajustado cresceu 21% na comparação anual, para R$ 476 milhões. A margem ficou em 51%, beneficiada pelo maior preço do açúcar e maior volume de vendas de etanol da unidade de Biorigin. O lucro líquido ajustado cresceu 4%, para R$ 107,6 milhões. A receita líquida subiu 11%, atingindo R$ 1,7 bilhão.