“Voltei para o ringue. Estou na disputa”. Assim o empresário mato-grossense João Antônio Fagundes resume a situação da Raça Agro, a rede de revendas de insumos pecuários comandada por ele e que, por muito pouco, não entrou em recuperação judicial.
Depois de sofrer com a deterioração dos preços do boi gordo, que derrubou o poder de compra dos pecuaristas e se somou à gigantesca deflação dos defensivos agrícolas, a Raça Agro já havia costurado uma inédita renegociação com os credores, alongando o passivo sem precisar recorrer à Justiça.
Agora, as operações começam a dar sinais de recuperação, ancoradas na forte recuperação dos preços do gado e em medidas de redução de estoques, despesas e mudanças na área comercial.
Em novembro, por exemplo, a Raça Agro faturou mais de R$ 40 milhões, caminhando para uma margem Ebitda entre 8% e 10%, um nível saudável.
“Estamos superando R$ 40 milhões. É um número muito importante que devemos repetir em dezembro. Para você ter uma ideia, durante a crise chegamos a fazer apenas R$ 17 milhões”, contou Fagundes ao The AgriBiz.
Neste momento, a Raça Agro está gerando caixa, disse o empresário. Isso foi possível graças ao acordo com o credores, que previu uma carência relevante tanto dos juros quanto das amortizações.
Com uma dívida da ordem de R$ 300 milhões, a companhia conseguiu uma carência de dois anos — de juros e amortização — para cerca de 70% das dívidas, alongando o vencimento para 2032. Os 30% restantes foram renegociados, com alongamento e parte disso com carência do principal.
Ao todo, a Raça Agro assinou renegociações com 14 credores financeiros, incluindo Banco do Brasil, Kijani, Vectis, Ceres, Sofisa, Santander e Bradesco. Os acordos também incluíram uma repactuação do passivo com fornecedores, notadamente de defensivos usados em pastagens: Adama, Ihara, Tecnomyl e CHDS.
“Nosso cenário otimista, e quase teórico, era concluir a repactuação em acordos bilaterais. Nossa expectativa era terminar o processo em uma recuperação extrajudicial, dragando a maioria dos credores. Mas conseguimos exatamente aquele que era o melhor cenário”, disse Fagundes.
Voltando ao crescimento
Com a casa arrumada, a expectativa da Raça Agro é voltar a crescer, chegando a uma faturamento de mais de R$ 450 milhões em 2025, o que representaria uma evolução relevante em relação aos R$ 313 milhões de 2023. A companhia precisa ficar maior para ter um balanço capaz de honrar as dívidas quando a carência concedida pelos credores terminar.
Com 20 lojas e boa parte delas ainda longe da maturidade, Fagundes está confiante que conseguirá crescer para cumprir o plano sem a necessidade de qualquer aporte de um sócio estratégico, algo que já foi considerado no passado. “Não dependemos de aporte para cumprir o plano”, frisou.
Ainda assim, a Raça Agro está aberta à atração de um investidor para reforçar a estrutura de capital e, é claro, reforçar as ambições de longo prazo para competir com Axia Agro, investida do Pátria, e Alvorada, da Kinea. A diferença é que, agora, não há urgência. O ciclo da pecuária conspira a favor.