A forte queda nas importações de carne frango da China, principal cliente do Brasil, deve estancar no próximo ano. A avaliação é de Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que vê como finalizado o processo de ajuste nos volumes comprados pelo gigante asiático.
De janeiro a novembro deste ano, o Brasil enviou 509 mil toneladas de frango à China, uma queda de 19,5% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do governo compilados pela ABPA. Considerando todas as origens, a queda nas importações chinesas de frango ultrapassam 30% até outubro, de acordo com informações da aduana chinesa.
Daqui para frente, a expectativa é de que os volumes importados do Brasil permaneçam praticamente estáveis, até com um pequeno viés de alta considerando o crescimento orgânico do mercado — por ano, cerca de 30 milhões de chineses entram no mercado consumidor.
“Também vemos a China anunciando políticas de incentivo ao consumo”, observou Santin. “Eu acredito mais em um aumento do que em novas quedas nas importações chinesas.”
O mercado chinês de proteína animal sentiu a forte recuperação da produção de suínos na China após a crise provocada pela peste suína africana, que teve início em 2018. Embora os volumes de carne suína já viessem se recuperando nos últimos anos, com a adição de 20 milhões de toneladas na produção local de carne suína entre 2020 e 2024, o efeito nos preços ficou mais forte.
“A carne suína ficou muito barata na China este ano, estimulando o consumo”, disse Santin. A produção no país asiático, segundo ele, ficou 3 milhões de toneladas maior do que o esperado, totalizando quase 57 milhões de toneladas, segundo dados do USDA.
Esse acréscimo demandou um ajuste no balanço das proteínas no mercado chinês. Sobrou para as importações de frango, que tiveram uma queda significativa. A retração só não foi maior do que a verificada nas importações de suínos do Brasil, de quase 40%.
Os exportadores brasileiros têm a seu favor o perfil de consumo dos chineses, concentrado em pés e patas de frango — mais de 70% dos embarques do Brasil são concentrados nessas partes, cujos volumes se mantiveram praticamente estáveis no ano passado. A queda nas exportações ficou mais concentrada em outros cortes, que acabaram encontrando outros destinos sem prejudicar o resultado geral do setor.
Mais recordes
O Brasil deve encerrar o ano com um crescimento de 3% nas exportações de frango, que devem superar 5,3 milhões de toneladas, segundo a ABPA. O País tem aproveitado o espaço deixado pelos Estados Unidos, que reduziu as suas exportações em 10% até outubro deste ano — especialmente as vendas externas de leg quarter.
“O americano, que tradicionalmente come mais peito de frango, está consumindo mais coxa e sobrecoxa. Isso abre mais espaço para as exportações brasileiras”, diz Santin.
Para sustentar o crescimento das exportações e do consumo interno, a ABPA vê um crescimento de 2,7% na produção de carne de frango em 2025, para até 15,3 milhões de toneladas, um recorde.
Neste ano, a produção deve fechar em cerca de 15 milhões de toneladas, menor do que o projetado inicialmente pela ABPA devido ao reforço nas ações em biosseguridade após os episódios isolados de influenza aviária em aves silvestres e da doença de Newcastle, segundo Santin. As empresas elevaram, por exemplo, o período de vazio sanitário. Além disso, o calor excessivo no terceiro trimestre do ano acabou reduzindo o peso médio de abate das aves.
O consumo per capita deve aumentar 2%, para 46,6 quilos por habitante em 2025, sustentado por uma melhora no mercado de trabalho e pelo aumento no preço da carne bovina, que acaba transferindo demanda para o frango. Para o presidente da ABPA, esse movimento deve continuar acontecendo em 2025, beneficiando também a carne suína.
Suínos
A ABPA também projeta um ano positivo para a carne suína, com uma expansão de aproximadamente 7% nas exportações, que podem atingir 1,45 milhão de toneladas — volume que deixa o Brasil empatado com o Canadá como terceiro maior exportador.
As Filipinas, o grande motor do crescimento dos embarques deste ano, devem continuar ampliando as compras do Brasil. “Não vemos um limite para o crescimento das Filipinas e o principal driver é a peste suína africana. Eles têm muita dificuldade de controlar o vírus”, diz Santin, acrescentando que o país deve se consolidar como maior destino das exportações de carne suína do Brasil em 2025.
Margem alta, sim senhor
O presidente da ABPA reforçou, durante a coletiva de final de ano, que as margens das empresas do setor devem continuar em patamares elevados em 2025, sustentadas por um consumo aquecido e custos estáveis.
Santin também espera que os preços internacionais continuem firmes, com a possibilidade até de incremento em dólares em algumas regiões dependendo dos efeitos do vírus H5N1 no hemisfério norte, que enfrenta um novo surto neste início de inverno.