Fiagro

Vinci mira primeiro bilhão em agro com fundo de R$ 300 milhões

Veículo de investimento é o primeiro lançado em conjunto desde a aquisição da MAV, gestora focada em agronegócio, anunciada em abril

Pulverizadores em lavoura de soja. Vinci lança novo Fiagro

No apagar das luzes de 2024, a Vinci e a MAV lançaram uma oferta de Fiagro que pode chegar a R$ 300 milhões — o primeiro veículo de investimento anunciado em conjunto desde a aquisição da gestora focada em agronegócio, anunciada em abril. Caso atinja seu tamanho máximo, o FIDC Fiagro vai elevar o portfólio de agro da Vinci para a casa do bilhão.

“Existe muito espaço para crescer no mercado. Queremos ser uma das melhores casas de gestão de agronegócio no Brasil, um plano que ganhou mais força com a escala que a Vinci conseguiu trazer e que foi um dos principais motivos para a transação”, afirma André Ito, fundador da MAV Capital e head de crédito agro da Vinci.

Restrito a investidores institucionais e private, o novo fundo almeja uma rentabilidade de CDI+2,5% na cota sênior e de CDI+6% na mezanino.

O FIDC Fiagro reflete a experiência de sobra da gestora adquirida. A estrutura é bastante similar à do segundo fundo da MAV, lançado em junho do ano passado e que hoje tem um patrimônio líquido de R$ 183 milhões. 

“Do ponto de vista macro, tivemos um ano desafiador, mas seguimos confiantes em 2025, com as boas perspectivas de crescimento de área plantada e de chuvas. Para nós, como provedores de capital, pode ser um ano muito bom”, disse Leandro Bousquet, sócio da Vinci e head de crédito, ao The AgriBiz.

O terceiro Fiagro deve permanecer com o tamanho dessa captação — no limite, os R$ 300 milhões. O vencimento é de sete anos — prazo que está relacionado tanto ao perfil de tomador de risco, que não aceita um fundo perpétuo (mas tem uma tolerância a prazos longos), como às próprias operações que, no limite, chegam a cinco anos.

As operações são principalmente de capital de giro, alongamento de dívidas e financiamento de produção. A alocação deve seguir o molde dos fundos anteriores: focar no topo da cadeia, principalmente em produtores rurais grandes (com cerca de 20 mil hectares) e em usinas. 

“Por que gostamos mais dessa parte do que dos intermediários, como revendas e cooperativas? Porque um dos principais drivers é a solvência, diz Ito. “Queremos saber quanto essa companhia ou produtor tem de patrimônio que possa ser disponibilizado para venda, imóvel rural e ativo biológico, para quanto ele tem de dívida. Nesses dois segmentos a gente encontra isso de maneira mais frequente e em escala”, explica Ito.

A experiência como diferencial

No ano em que as captações de Fiagro balançaram a Faria Lima — especialmente após a recuperação judicial da Agrogalaxy — a experiência de quem está há décadas no mercado é um diferencial. 

Diferentemente de fundos que se aventuraram pelo mundo do agronegócio e encontraram inadimplência, a MAV conseguiu evitar danos aos cotistas. O único problema em que a casa esteve envolvida foi com o produtor Washington Cinel, um crédito também presente na carteira do RURA11 e que foi recuperado ainda neste ano.

“Uma crise é sempre muito ruim, mas nela mostramos a nossa qualidade na gestão de carteiras de crédito. Também temos, é claro, o benefício de estar em um segmento onde o investidor é mais informado e mais tolerante ao risco. Do mesmo jeito que ele não se move para entrar no fundo só porque está na moda, não sai só porque o ecossistema passou por uma lombada”, afirma Ito.

Para conseguir esse nível de resultados, o jeito ‘botina suja’ de fazer negócios é fundamental — e quase uma unanimidade entre os nomes mais experientes no crédito ao agronegócio. Hoje, na MAV, são pelo menos duas viagens por mês para o interior do Brasil a fim de avaliar novos negócios.

Quebrando fronteiras

Hoje, a Vinci tem R$ 700 milhões sob gestão em ativos de agronegócio — um montante representativo para o setor, mas ainda tímido diante do total que a gestora tem em geral, hoje próximo de US$ 54 bilhões. 

Além dos fundos da MAV, a Vinci tem um produto cetipado, o VICA11, um FII que tem cerca de R$ 370 milhões em patrimônio líquido. Hoje, a gestão do fundo é compartilhada entre a área de crédito e de real estate, com planos de que a participação dos gestores especializados em agronegócio cresça gradativamente. O produto, hoje, é o principal candidato a ser listado, com foco na pessoa física. 

“Vamos continuar estruturando os fundos da família de FIDCs e outros. A ideia é expandir, esse é um segmento que tem grande representatividade no PIB e enxergamos um espaço enorme com várias soluções de capital, seja FIDCs, um FII Fiagro mais para pessoa física ou um fundo de terras”, diz o head de crédito da Vinci.

Recentemente, a gestora também adquiriu a Lacan, focada em operação de florestas, um segmento que a gestora também queria complementar na área de ativos reais. Com R$ 1,5 bilhão sob gestão, a gigante ganha força também ao alcançar um nicho ainda relativamente novo no Brasil.

Em médio prazo, a Vinci também vê espaço para expandir geograficamente a tese do agronegócio depois da união de forças com a Compass, outra transação realizada neste ano. “O agro, assim como todas as áreas de private markets, tem a oportunidade e o desafio de expandir negócios para fora do Brasil. Acredito que seja possível ganhar mais força nessa tese”, afirma Bousquet.