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Bom para pele (e para o bolso): A margem de 30% que atraiu a BRF para o colágeno

Para ficar com os 50% da Gelprime, a dona da Sadia vai pagar R$ 312,5 milhões, o que implica uma avaliação de R$ 625 milhões

BRF compra Gelprime
Fábrica da Gelprime em Londrina (PR), uma das mais modernas no segmento; empresa passa a ter BRF como sócia | Crédito: Divulgação

A massiva geração de caixa proporcionada pelo ciclo do frango recolocou a BRF na rota do crescimento, abrindo oportunidades para M&As em áreas menos óbvias — e bem mais rentáveis.

Depois de fechar aquisições mais ligadas ao core business na Arábia Saudita e na China, a dona da Sadia anunciou ontem a aquisição de 50% da Gelprime, ingressando em gelatina e colágeno.

Com isso, a BRF estreia num mercado em franca expansão que entrega margens Ebtida da ordem de 30% — para se ter uma dimensão, nos melhores momentos de sua história, a BRF faz perto de 20%.

Para ficar com os 50% da companhia sediada em Londrina, a BRF vai pagar R$ 312,5 milhões, o que implica uma avaliação de R$ 625 milhões para a companhia como um todo.

Há poucos anos, a Marfrig até chegou a avaliar a aquisição da catarinense Gelnex, player relevante de gelatina e colágeno, mas o negócio era maior e acabou nas mãos da gigante americana Darling, que pagou US$ 1,2 bilhão.

Com a Gelprime, a chance de entrar nesse mercado ressurgiu. Fundada em 2019, a Gelprime era controlada integralmente pela Viva, gigante brasileira de couro que nasceu no ano passado a partir da fusão entre Viposa e Vancouros. A empresa possui boas relações com a Marfrig (em novembro, por exemplo, a Viva comprou o curtume de Bataguassu, por R$ 100 milhões).

Com a entrada da dona da Sadia, a Gelprime agora será compartilhada com a Viva. A aposta é que a chegada de uma sócia capitalizada como a BRF pode acelerar a expansão da Gelprime. Atualmente, a companhia possui 2% do mercado global de colágeno e a ambição é chegar a 5% nos próximos anos.

Basicamente, o colágeno é mais comumente extraído de três fontes: derme bovina, suínos e escamas de peixes, todos subprodutos do abate.

Não à toa, gigantes do couro como a própria Viva e a JBS atuavam nessa frente — a empresa dos irmãos Batista, aliás, investiu R$ 400 milhões em uma fábrica de peptídeos de colágeno e gelatina em Presidente Epitácio, no interior paulista, em 2022.

Matéria-prima garantida

Com a BRF, a Gelprime terá fornecimento assegurado de matéria-prima tanto oriunda de suínos como do abate de bovinos da Marfrig.

Os sócios da Gelprime também vislumbram uma oportunidade de escalar o colágeno feito a partir de escamas de peixes, de olho na demanda por esse tipo de produto na Ásia.

Como a BRF já é a maior fornecedora de insumos para ração de tilápia (que subprodutos do abate de frango) no Brasil, há um caminho aberto para construir acordos relevantes para adquirir as escamas.

Do lado da demanda, o mercado de colágeno cresce sustentado nos apelos de saúde, com os suplementos, mas também nas áreas farmacêutica e de alimentação (o colágeno é usado em produtos embutidos, como salame, salsicha e linguiça).