Em uma das piores janelas de captações para as gestoras de venture capital, a SP Ventures acaba de fazer história.
Desafiando o ambiente sorumbático de juros altos, inflação e ojeriza aos desajustes fiscais brasileiros, a firma liderada por Francisco Jardim levantou US$ 22 milhões (cerca de R$ 140 milhões) para seu terceiro fundo de venture capital.
A captação marca o primeiro closing do fundo, que não deve parar por aqui. A gestora segue em conversas com bancos de desenvolvimento e prevê chegar a US$ 60 milhões de capital no novo fundo até junho, no segundo closing. Se tudo der certo, haverá ainda um terceiro closing até o fim de 2025, levando o novo fundo para cerca de US$ 80 milhões.
“Me atrevo a dizer que a SP Ventures passou a arrebentação e criou uma vantagem competitiva duradoura”, disse Jardim ao The AgriBiz, em uma entrevista concedida junto aos três sócios da firma de venture capital: Felipe Guth, Ariadne Caballero e Alexandre Stephan.
Com o novo veículo, a SP Ventures terá um raro poder de fogo para disputar os melhores deals no ecossistema de agfoodtechs — especialmente em fintechs e biológicos —, tirando vantagem de um ambiente concorrencial menos hostil do que a era dos juros baixíssimos de 2020 e 2021.
“Essa safra de investimentos vai ser a melhor de todas. Não tenho dúvida nenhuma”, ressaltou Jardim. Para Stephan, o dinheiro vem em boa hora, justamente quando os valuations das startups estão menos inflados. “As rodadas estão bem mais racionais”, avaliou.
Os cotistas da SP Ventures
Levantar recursos neste momento foi também uma demonstração de confiança de algumas das corporações mais relevantes do agronegócio global no modelo de investimentos da SP Ventures.
Entre os investidores do terceiro fundo, estão a gigante de máquinas agrícolas AGCO e as fabricantes de insumos FMC e Basf (por meio de seus respectivos corporate venture capital). A brasileira Minerva Foods também integra a lista de investidores do novo veículo da SP Ventures, assim como a marroquina OCP, de fertilizantes.
Para Ariadne Caballero, sócia da SP Ventures que fez carreira na Syngenta antes de se juntar à firma de venture capital, o conhecimento acumulado pela gestora ao longo dos anos foi o que atraiu as corporações.
“Ofereceremos um conhecimento local do ecossistema para essas corporações. Muitas vezes, essas corporações têm grupos globais para investir em venture capital, mas a América Latina não é um animal qualquer e tem os seus desafios. Então, eles nos enxergam como uma adição na estratégia”, afirmou.
O desempenho do portfólio da SP Ventures também contou favoravelmente na captação do fundo. Embora a gestora ainda não tenha feito desinvestimentos relevantes (uma exceção foi a venda da Inceres à Husqvarna), a casa tem bons exemplos para mostrar a capacidade de multiplicação de valor com suas investidas, disse Guth.
“Algumas das nossas startups foram assediadas ao longo do tempo, e optaram por fazer rodadas para continuar crescendo”, lembrou ele, citando os dois casos mais emblemáticos do portfólio da SP Ventures: Agrolend e Gênica, ambas avaliadas em mais de US$ 100 milhões.
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Atualmente, a SP Ventures administra cerca de US$ 100 milhões em ativos.