O modelo de negócios da 3tentos — baseado na distribuição de insumos visando garantir matéria-prima para suas indústrias — está fazendo escola. Prestes a mais que dobrar a sua capacidade de processamento, a Olfar Agro, uma das maiores produtoras brasileiras de biodiesel, está intensificando o processo de verticalização para reforçar a originação própria de soja.
No acordo anunciado ontem com a Synap, vertical de revendas da Syngenta, a Olfar vai adicionar 18 lojas à sua rede própria de revendas. As unidades transferidas, que estavam funcionando normalmente, estão localizadas no Rio Grande do Sul (sob a bandeira Atua Agro) e em Goiás (Agrocerrado), elevando o número total de revendas da Olfar Agro para 55. O acordo ainda depende de aprovação do Cade.
Caso tudo saia como o esperado, a Synap, por sua vez, sairá do dia a dia das revendas em ambos os estados, permanecendo no Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Mapito. O movimento é mais um sinal da disposição da multinacional de insumos de reduzir a sua presença direta no varejo agrícola, voltando a priorizar o relacionamento com parceiros. No ano passado, a Syngenta fechou cerca de dez revendas na região Sul.
“Não tínhamos um modelo pré-formatado. A Syngenta não era nem mesmo nosso fornecedor. Começamos conversas para construir uma parceria de distribuidor e, ao longo do tempo, essa negociação foi evoluindo para chegar ao acordo atual”, disse André Zimmermann, gestor de operações da Olfar Agro, ao The AgriBiz.
Trata-se de uma aliança comercial com a Syngenta. A Olfar não comprou as lojas, mas vai assumir toda a gestão das revendas da Synap no Rio Grande do Sul e em Goiás de uma forma muito próxima à gestão de lojas próprias: o CNPJ será da Olfar e as contratações serão feitas pela empresa, que cuidará também da parte de crédito, portfólio e atendimento ao cliente.
“Queremos trazer várias soluções de barter para os produtores que tragam segurança tanto para eles quanto para nós em relação à parte de crédito e cobrança”, diz Zimmermann.
Mesmo com as novas lojas, a Olfar ainda não conseguirá garantir a maior parte de sua originação de forma direta. Hoje, as lojas próprias garantem 4,5 milhões de sacas de soja por ano em originação, o equivalente a 40% da demanda por matéria-prima.
Crescimento contínuo na Olfar
O acordo com a Synap ajudará a Olfar a garantir parte da soja processada em uma usina adquirida em 2021 em Porangatu (GO), inaugurando a presença da companhia fora do Rio Grande do Sul.
Com a unidade goiana, que está em processo de ramp-up, a capacidade de produção da Olfar deve atingir 6,5 mil toneladas de farelo de soja por dia em 2025. Hoje, a empresa produz 2,5 mil toneladas de farelo por dia e 1,3 milhão de metros cúbicos de biodiesel por ano. Em 2024, o faturamento da companhia somou R$ 5 bilhões.
A ambição é construir um negócio com presença nacional — o que demanda a verticalização. Além da compra da usina em Porangatu (GO), estão previstas obras para a expansão da matriz da companhia, em Erechim (RS), que também devem aumentar a produção de biodiesel, e novos projetos a serem anunciados no segundo semestre.
Em paralelo, vem, também, uma maior demanda por rastreabilidade. “Nossos clientes finais, grandes indústrias no mercado de pasta de dente [para a compra de glicerina], querem ter esse produto 100% rastreável, num processo que deve começar neste ano. Por isso, queremos estar cada vez mais próximos do produtor”, diz Zimmermann.