
Ao adquirir uma fatia da Belagrícola, a Bunge vai conquistar uma posição estratégica no mapa de originação de grãos no Paraná, estabelecendo uma base relevante para competir com as cooperativas regionais.
“No mapa da Bunge, só faltava o Paraná”, lembrou um trader, referindo-se à estratégia empregada pela companhia para facilitar a originação a partir de parcerias com revendas agrícolas.
Ao longo dos últimos anos, a Bunge comprou participações minoritárias em redes de revendas do Centro-Oeste, Norte e Matopiba — acrônimo para a confluência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“Nos outros Estados grandes produtores, eles já tinham parcerias nesse modelo”, lembrou a fonte, mencionando Alvorada, Pantanal e Sinova — a Bunge é sócia das três.
A negociação para a aquisição de uma participação minoritária na Belagrícola, revelada em primeira mão pelos colegas do AgFeed, ainda não foi oficializada mas as conversas estão adiantadas.
Assim que concluir o acordo, a Bunge terá acesso a um parceiro que possui mais de 70 armazéns espalhados pelo Paraná, um complexo capaz de armazenar 1 milhão de toneladas de grãos. “É bastante coisa”, ressaltou um experiente cerealista.
Nas sociedades com as revendas, o interesse da Bunge está longe de ser a operação de distribuição de insumos, um negócio intrincado e que muitas vezes resvala em problemas de crédito e cobrança. O que faz sentido é conseguir um acesso primário aos grãos.
Do lado da Belagrícola, a atração de um sócio do porte da Bunge ocorre num momento importante para os rumos da companhia, ajudando a melhorar a estrutura de capital e reduzir os índices de endividamento.
Em 2023, o índice de alavancagem estava em 4,4 vezes, um nível alto para uma atividade que opera com margens baixas. Com cerca de R$ 7,5 bilhões em receita, a Belagrícola fez um Ebitda da ordem de R$ 240 milhões (margem de apenas 3,2%) no ano retrasado.
“A Belagrícola estava procurando parceiros há algum tempo e agora recebe um aporte de capital novo que vai ajudar a navegar no momento atual”, disse um executivo graduado do setor, citando as agruras das revendas nas últimas duas safras.
Os números do M&A entre Bunge e Belagrícola ainda não são públicos, mas a conjuntura de mercado sugere que a trading vai ingressar na revenda paranaense em um momento de preços atrativos, com valuations menos esticados que os praticados no auge da consolidação liderada por Lavoro e Agrogalaxy.
Naqueles tempos, as transações saíam a múltiplos (EV/Ebitda) de 6 vezes a 7 vezes, sendo que alguns deals mais caros chegaram a incríveis 9 vezes. Agora, a euforia acabou, e dificilmente um acordo sairia acima de 5 vezes.
Mesmo com múltiplos mais acanhados, o fato é que a transação com a Bunge é um alívio para os controladores da Belagrícola, o grupo chinês Pengdu.
No Brasil, lembrou um credor, os chineses já não enfrentavam uma situação fácil na mato-grossense Fiagril, companhia precisou se desfazer de ativos recentemente, saindo do negócio de biodiesel.
***
No mercado de capitais, a entrada da Bunge no capital da Belagrícola deve ser bem-recebida. Os Fiagros de casas como Sparta, Capitânia, JGP e Banco do Brasil possuem CRAs da rede de revendas paranaense.