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A JBS acaba de anunciar a aquisição da brasileira Mantiqueira, mostrando a disposição dos irmãos Batista de levar a gigante global das carnes para a liderança no mercado de ovos.
Costurado ao longo de mais de um ano, o M&A marca a estreia da JBS no mercado brasileiro de ovos como uma protagonista. “Já entramos com o líder”, disse Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em entrevista ao The AgriBiz.
Fundada pelo empresário Leandro Pinto na mineira Itanhadu, a Mantiqueira é a maior fabricante de ovos comerciais do Brasil, com um plantel de 17,5 milhões de galinhas poedeiras e um faturamento estimado em R$ 2 bilhões.
A transação é surpreendente pelo formato bastante inusual para o histórico da JBS. A companhia dos irmãos Batista vai compartilhar o controle da Mantiqueira com o fundador, que seguirá à frente das operações ao lado do CEO, Marcio Utsch.
Pelos termos do acordo, a JBS avaliou a Mantiqueira em R$ 1,9 bilhão (incluindo as dívidas). Efetivamente, a companhia adquiriu a participação de 48,5% que pertencia à Carlos Cunha, sócio de Pinto na produtora de ovos. “Teremos 50% do controle e 48,5% do equity”, explicou Tomazoni.
Embora incomum para a JBS, o controle compartilhado fez sentido graças ao alinhamento de valores e às relações históricas entre o fundador da Mantiqueira e os irmãos Wesley e Joesley Batista, disse Tomazoni. Desde 2004, Pinto é fornecedor de gado para os frigoríficos da JBS.
A proximidade entre as famílias e a comunhão de valores são um antídoto contra desavenças na estratégia da Mantiqueira, evitando a repetição de problemas como os ocorridos na italiana Inalca, um caso de controle compartilhado malsucedido que marcou a história da JBS. “Aqui é diferente. As famílias já se conhecem e têm admiração”, assegurou Tomazoni.
O futuro da Mantiqueira
A entrada da JBS no capital da Mantiqueira vai ajudar a intensificar o crescimento da granja, mas não apenas. O M&A redesenha o tabuleiro do mercado brasileiro de ovos, intensificando o processo de consolidação que já estava em curso, sob a liderança da Mantiqueira e da rival Granja Faria.
A chegada de um player tão relevante quanto a JBS ao mercado de ovos valida a estratégia de players como a Raiar Orgânicos, que sempre apostou que a consolidação atrairia os gigantes da proteína, mas ao mesmo tempo mostra que o ambiente concorrencial pode ficar mais complexo.
Para Tomazoni, a Mantiqueira vai se beneficiar das sinergias comerciais e de custo de matéria-prima proporcionada pela escala da JBS. “Somando as nossas capacidades, conseguimos acelerar”, disse ele, citando o market share da Mantiqueira — cerca de 15%.
Com a JBS, a Mantiqueira terá uma capacidade de acesso a mercado gigantesca, aproveitando a capilaridade da Seara e da Friboi em pontos de venda dos mais diversos cantos do País.
A granja de origem mineira ganha ainda poder de barganha na aquisição de insumos, dos grãos usados na ração animal ao papelão das embalagens, aproveitando a escala que a JBS possui no Brasil.
No exterior, a Mantiqueira poderá se valer da estrutura da JBS para ampliar a capacidade de exportação, acrescentou Tomazoni.
Bacon e ovo no café
Do lado da JBS, a sociedade com a Mantiqueira diversifica as operações ao incluir mais um tipo de proteína no portfólio. “Vamos ficar mais presentes no café da manhã”, disse Tomazoni, citando o bacon da Seara e a margarina da Doriana, que pertencem à JBS.
A aquisição agrega marcas que estão ficando conhecidas, como a própria Mantiqueira e a Happy Eggs (de galinhas criadas livres de gaiolas). A Fazenda da Toca, que produz ovos orgânicos, é outro ativo do grupo.
Financeiramente, os ovos oferecem um rentabilidade saudável para a JBS — com margens muitas vezes maiores que as registradas no mercado de carnes —, além de crescer muito mais rapidamente.
“O ovo é um categoria muito atrativa que cresce dois dígitos por ano”, ressaltou Tomazoni. Em dez anos, o consumo per capita no Brasil aumentou 33%, chegando a 242 ovos por ano em 2023, segundo estimativas da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).