Logística

Na safra de Mato Grosso, as razões do Santander para comprar Rumo

Neste momento, as ações da operadora logística negociam com um desconto significativo sobre a média histórica, escrevem os analistas do banco

Rumo

A colheita recorde de soja que se aproxima em Mato Grosso é amplamente favorável para a Rumo e deveria servir para convencer os investidores que ainda temem a competição com caminhões e o Arco Norte.

A conclusão é do Santander, destrinchada em um relatório enviado a clientes pelos analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem. O trio vê um upside de 53% para as ações da Rumo, com um preço-alvo de R$ 27,50.

Ao elencar as razões para comprar papéis da Rumo, aliás, o Santander faz coro a outras casas — BTG Pactual, J.P. Morgan e XP Investimentos — que recentemente soltaram relatórios construtivos para os preços da papel (RAIL3).

Neste momento, a Rumo é praticamente um consenso no sell side. Das 13 casas que acompanham o papel, 11 recomendam a compra e duas são neutra.

Mais grãos em Mato Grosso

Sem sombra de dúvida, a safra de Mato Grosso é um dos principais motivos para esse consenso.

Nas projeções do Santander, a Rumo vai transportar 25 milhões de toneladas de grãos do Estado em 2025, um acréscimo de 1,4% na comparação com o ano passado.

A estimativa do banco já incorpora o crescimento das rotas concorrentes, sejam elas caminhões diretamente até o porto de Santos ou a saída pelo Arco Norte, combinando rodovias e barcaças. Ou seja, a Operação Norte da Rumo pode crescer mesmo assim.

Nas contas do trio de analistas, o transporte exclusivamente rodoviário até Santos deve totalizar 4,2 milhões de toneladas de grãos mato grossenses neste ano, um salto de 50%. No Arco Norte, o Santander estimou 25,9 milhões de toneladas, o que significa um incremento de 1,5%.

Para chegar a esses números, os analistas do Santander tomaram com premissa uma safra mato-grossense ainda maior do que o Imea, o prestigioso instituto de economia agrícola do Mato Grosso.

Trabalhando com uma área ligeiramente maior e melhor produtividade, os analistas do banco estimaram que a safra de soja de Mato Grosso vai chegar a 44,6 milhões de toneladas, um acréscimo de 600 mil toneladas sobre os números do Imea.

No caso do milho, a diferença é ainda maior. Com os preços do cereal indicando mais rentabilidade, o Santander trabalha com uma área plantada de 7,8 milhões de hectares na safrinha, uma diferença de 1 milhão de hectares sobre o Imea. Com essa área, os analistas projetam uma produção de 52,3 milhões de toneladas de milho.

No relatório, eles reconhecem que o atraso na colheita de soja tem potencial para atrapalhar a safrinha, mas esperam que o ritmo acelere nas próximas semanas dado o clima favorável, permitindo assim o cultivo do milho.

O custo da Rumo

Se esse cenário se confirmar, a demanda estará dada, o que deve tornar o ambiente mais favorável para um aumento nos preços do frete — ruim para os produtores, mas positivo para a Rumo.

Nesse processo, a competitividade da operadora de ferrovias sobre as rotas concorrentes deve se sobressair, ressaltaram os analistas do Santander.

No período de doze meses encerrado em setembro de 2024, o custo médio da logística para levar soja à China foi de R$ 534 por tonelada usando as ferrovias da Rumo.

Pelo Arco Norte, esse custo é 15% maior. Na rota exclusivamente rodoviária entre Mato Grosso e o porto de Santos, a conta fica 31% mais cara. Mesmo na rota rodoviária mais barata rumo ao porto de Santarém, no Pará, o custo é menos competitivo do que a Rumo, ficando 7% mais caro.

Com essas vantagens, as ações da Rumo deveriam valer mais, segundo os analistas do Santander. Neste momento, os papéis da companhia negociam a um múltiplo (EV/Ebitda) de 5,7 vezes, abaixo da média histórica dos últimos dez anos, de 9,3 vezes.

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Na bolsa, as ações da Rumo acumulam queda de 20% nos últimos doze meses. A companhia controlada pela Cosan está avaliada em R$ 34 bilhões.