Perspectivas

A margem recorde do frango continua em 2025?

Com aumento da produção e dos custos, a lucratividade de empresas como Seara e BRF pode começar a cair do nível recorde de 2024

Frango empanado

Após um 2024 estelar, as empresas produtoras de carne de frango podem ver os resultados começarem a enfraquecer em 2025. Ainda assim, as margens devem continuar historicamente altas, impulsionadas por uma forte demanda e por uma oferta equilibrada — pelo menos por enquanto. No Brasil, a alta do milho pode elevar os custos.

Enquanto dois dos maiores produtores de frango do mundo se preparam para divulgar os resultados do quarto trimestre — a BRF em 26 de fevereiro e a JBS em 25 de março —, começa a ganhar espaço no mercado a percepção de que as margens podem começar a cair gradativamente neste ano.

“Embora a JBS (via Seara e Pilgrim’s Pride) e a BRF ainda devam apresentar resultados sólidos, as margens devem cair de forma sequencial, mesmo com o apoio de um câmbio mais favorável,” disse Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, em relatório.

Embora os volumes de vendas continuem crescendo, os preços de exportação (em dólar) vêm caindo, e os custos, que também acabam sendo influenciados pelo dólar mais alto, começam a pressionar a lucratividade, segundo o BTG. “Estimamos que as margens do segmento de aves em 2025 caiam para 14% na Seara e na BRF (ante 18% em 2024) e para 13% na Pilgrim’s Pride (ante 15%),” afirmou o analista.

Na semana passada, a Tyson Foods deu início à temporada de balanços das empresas de carnes com uma perspectiva construtiva, elevando sua projeção de margem de lucro para 7% em 2025, em média, ante 6,8% na estimativa anterior.

No primeiro trimestre do ano fiscal de 2025, a margem do frango da Tyson foi de 8,6%, refletindo o melhor margem lucro operacional registrado pela companhia norte-americana no segmento em oito anos. Mas, combinada ao guidance, ela sugere uma queda na lucratividade ao longo do ano.

Na próxima quarta-feira (13), será a vez da Pilgrim’s Pride — controlada da JBS com operações nos Estados Unidos, México e Europa — divulgar o seu balanço.

No Brasil

Os preços do milho no Brasil dispararam mais de 40% desde julho, quando atingiram o menor patamar, e subiram 24% no acumulado do último ano. Isso contribuiu para um aumento de 7,5% nos custos totais de produção de frango no ano passado, de acordo com um índice de custo de produção calculado pela Embrapa.

Os preços de exportação do frango caíram 11% desde o pico registrado em agosto. Em janeiro, houve uma queda de 2,3% em relação a dezembro, segundo dados do governo compilados pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). A valorização do dólar ajuda a compensar a retração nos preços, mas vale lembrar que a taxa de câmbio, que chegou a bater R$ 6,20 em dezembro, voltou para R$ 5,78, patamar registrado em novembro.

Embora a demanda global por frango continue forte, os preços de exportação podem ter sido pressionados pelo aumento da produção. O alojamento de pintinhos subiu 3,8% no ano passado no Brasil, atingindo níveis recordes, segundo dados citados pelo BTG em outro relatório. Se a tendência continuar, o alojamento poderá crescer mais 3% em 2025, mesmo diante de algumas restrições enfrentadas pelo setor, como menor taxa de incubação e maior mortalidade.

“Se os produtores conseguirem superar essas restrições, a oferta pode crescer ainda mais, adicionando mais pressão sobre os preços e as margens,” afirmou o BTG. “A produção de aves já está acelerando.”

Gripe aviária

O cenário de oferta também pode ficar menos pressionado com a redução nas disrupções causadas pela gripe aviária, lembra Wagner Yanaguizawa, analista de proteína animal do Rabobank Brasil. Os casos de influenza aviária tiveram uma redução de 18% em 2024, segundo dados da Organização Mundial de Saúde Animal até novembro.

“Embora não exista uma vacina disponível, conseguiram elevar seus padrões de proteção com a adoção de novos protocolos, e os números demonstram um resultado positivo”, disse. “Temos conseguido evoluir, principalmente no que acarreta no descarta de animais.”

O Rabobank espera que a produção global de frango cresça entre 2,5% e 3% em 2025, em linha com a demanda, que também deve aumentar, já que os preços do frango continuam muito competitivos em relação à carne bovina.

“Em algumas regiões do Brasil, as margens do frango superam 30%. Há espaço para as empresas reduzirem preços e continuarem apresentando margens sólidas,” afirmou.

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